SÃO PAULO – Maio foi mais um mês daqueles para o mercado. Como se não bastassem as preocupações cada vez mais constantes com a crise na Europa –Grécia, Bélgica e Itália tiveram suas notas rebaixadas por agências de risco durante o mês – e a percepção do de que a economia norte-americana está crescendo menos do que o esperado, o mês ainda foi marcado pela morte de Osama Bin Laden e pela prisão deDominique Strauss-Kahn, que perdeu o posto de diretor-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional) por conta da repercussão desse fato.
Toda essa apreensão internacional acabou ofuscando os sinais de desaceleração da inflação na economia brasileira e também a recuperação do fluxo de investimentos estrangeiros em ações, que ficou positivo em R$ 2,904 bilhões em maio. Com isso, o Ibovespa, que já havia caído 3,58% em abril, fechou maio com queda de 2,29%, ocupando pelo segundo mês consecutivo o posto de pior investimento do mês.
Melhora na inflação deve puxar Bovespa em junhoMesmo com as interferências internacionais trazendo impactos negativos para a bolsa brasileira, a expectativa de alguns analistas é de que o mês de junho seja positivo para o Ibovespa, com os investidores dando mais peso para o arrefecimento inflacionário doméstico do que para as referências estrangeiras.
“A maioria das projeções para a inflação de junho estão se aproximando de zero. (...) Se esse cenário positivo local que prevemos se confirmar, acreditamos que ele terá maior influência no mercado local que o cenário internacional mais sombrio, levando a uma recuperação dos preços locais”, escreve o analista Oswaldo Telles Filho em relatório mensal do Banif Securities.
O melhor ambiente inflacionário é reforçado com os dados divulgados nesses primeiros dias de junho. O IPCA(Índice de Preços ao Consumidor Amplo), medida oficial da inflação no País, registrou taxa de 0,47% em maio, enquanto que em abril a inflação foi de 0,77%. Também apontando queda, o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) recuou 0,15 ponto percentual na mesma base comparativa, indo para 0,57%, enquanto o IGP-DI (Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna) passou de 0,50% para 0,01%.
Bancos, elétricas e IPOs ganham espaço em carteiraDiante da expectativa de que o cenário interno favorável ofusque as referências pessimistas lá de fora, os analistas têm escolhido as ações do setor financeiro para se posicionar nesse momento. Os papéis do Itaú Unibanco (ITUB4), que foram citados em 13 carteiras em maio, agora são vistos em 15 portfólios em junho. Também com duas indicações a mais, as ações do Banco do Brasil (BBAS3) agora aparecem em sete carteiras.
Contudo, as ações do setor de energia, conhecidas pelo seu caráter defensivo e sugeridas em momentos de maior instabilidade no mercado, seguem com significativa participação nas carteiras recomendadas por bancos e corretoras, indicando uma certa precaução em relação aos possíveis ganhos que podem surgir na bolsa em junho. Copel (CPLE6) aparece em cinco carteiras nesse mês, enquanto Eletropaulo (ELPL4) e Light (LIGT3) são citadas em quatro portfólios e a AES Tietê (GETI4) em três – todas elas tiveram um voto a mais do que em maio.
Outro destaque nas carteiras recomendadas de junho tem sido a maior participação de empresas que recentemente abriram seu capital na bolsa brasileira. É o caso da Arezzo (ARZZ3), que realizou seu IPO (Initial Public Offering) no começo de fevereiro desse ano e já está na lista de recomendações de duas corretoras. Sonae Sierra (SSBR3), Queiroz Galvão (QGEP3), Autometal (AUTM3) e Magazine Luiza (MGLU3) são outras empresas que abriram seu capital em 2011 e que foram citadas em uma carteira recomendada.
Gerdau se destaca dentre as siderúrgicasDentre os destaques individuais, não podemos deixar de mencionar as ações preferenciais da Gerdau (GGBR4), citadas em sete carteiras em junho, três a mais do que no mês anterior. Esse aumento de recomendações diverge não só com o cenário conturbado que as siderúrgicas estão enfrentando desde o ano como também pelo fato da forte exposição da empresa à economia norte-americana.
"No longo prazo a Gerdau é uma das empresas que mais se beneficiará com o cenário de investimentos em infraestrutura no Brasil para os próximos anos, impulsionado, por exemplo, pelas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), dos jogos olímpicos e da Copa do Mundo e pela expansão do setor imobiliário através do programa Minha Casa Minha Vida", afirmam os analistas da Ativa Corretora, justificando a exposição nos papéis da empresa.
Já o time da SLW Corretora avalia que, embora o setor siderúrgico ainda não apresente sinais fortes de recuperação, as ações dessas empresas encontram-se em patamres extremamente baixos, o que é visto por eles como uma oportunidade de posicionamento para o investidor com horizonte de longo prazo. Vale mencionar que a corretora incluiu os papéis da Gerdau neste mês em seu portfólio arrojado, retirando as ações da CSN (CSNA3).
E por falar nas concorrentes da Gerdau, vale ressaltar que CSN viu suas ações serem citadas em apenas duas carteiras nesse mês, enquanto os papéis da Usiminas (USIM5) foram lembrados em apenas um portfólio.
Telecoms: fortes altas limitam exposiçãoPor outro lado, os papéis ligados a companhias de telecomunicações têm perdido a preferência dos analistas nas carteiras desse mês, sobretudo por conta dos fortes ganhos que essas ações já acumularam no ano. Dessa forma, as ações da Vivo, que tinham seis indicações em maio, foram vistas em apenas quatro carteiras nesse novo mês. Até o final de maio, os papéis VIVO4 já haviam subido 44,07% - maior alta do Ibovespa -, enquanto o índice paulista recuou 6,76% no mesmo período.
Já Telesp (TLPP4) e Tele Norte Leste (TNLP4), que haviam recebido três recomendações em maio, foram citadas em, respectivamente, duas carteiras e uma carteira. De janeiro a maio, os papéis da Telesp subiram18,41%, enquanto os ativos da Tele Norte Leste avançaram 17,30%.
Pão de Açúcar “some” das carteiras nesse mêsSe no mês de maio as ações do Pão de Açúcar (PCAR4) foram destaque positivo na dinâmica das carteiras ao receber 13 recomendações – seis a mais do que em abril –, o que foi visto em junho foi exatamente o oposto: os papéis da rede de supermercados praticamente sumiram das carteiras recomendadas, sendo citados apenas por duas corretoras - SLW (carteira de perfil dinâmico) e Socopa.
E o motivo para essa mudança repentina de opinião tem nome: Casino. A varejista francesa, que divide o bloco de controle do Pão de Açúcar com a família Diniz, abriu um pedido de arbitragem contra o Grupo Diniz na ICC (Câmara de Comércio Internacional), exigindo que os Diniz cumpram suas obrigações, estabelecidas no acordo de acionistas de novembro de 2006.
Além da sequência de quedas que o evento trouxe às ações do Pão de Açúcar, o Credit Suisse também aproveitou para reduzir o preço-alvo esperado para os papéis da companhia brasileira, vendo riscos de um processo litigioso.