São Paulo, 15 - O longo e complexo processo de incorporação da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar) sofreu um duro revés com o anúncio de que as provisões para contingências judiciais da BrT serão elevadas em mais R$ 1,290 bilhão. A perda contábil levará a companhia a revisar a relação de troca entre as ações das duas companhias. As novas condições só serão implementadas se aprovadas pelos acionistas minoritários da BrT, informou a operadora.
O anúncio pegou o mercado de surpresa e, mais uma vez, levantou dúvidas sobre os procedimentos de governança corporativa da Oi, de acordo com especialistas ouvidos pela Agência Estado. Apesar de o processo de incorporação das ações estar comprometido, a fusão em si não deve ser ameaçada, avaliam as fontes.
As ações preferenciais (PN) da Brasil Telecom (BrT) reagem em forte queda de 10% no pregão de hoje da bolsa, enquanto o papel ordinário (ON) da empresa cai 13,10%. As ações PN da holding Telemar registram baixa de 3,04% e as PNA da Telemar Norte Leste (Tmar) recuam 2,26%. No mesmo horário, o Ibovespa recuava 0,86%.
Os processos judiciais que levaram às provisões bilionárias da BrT se referem a dividendos e outros proventos de clientes que recebiam ações da antiga Telebrás em troca das linhas adquiridas por meio dos planos de expansão da rede realizados nas décadas de 1980 e 1990. Por falta de conhecimento, muitos deles não reclamaram os direitos na época e ingressaram na Justiça apenas anos mais tarde.
Antes da fusão, Telemar e BrT tratavam as possíveis perdas nos processos de forma diferente. Em abril do ano passado, a BrT já havia anunciado uma provisão de R$ 1,245 bilhão, mas na ocasião a Oi manteve inalterada as condições da incorporação. "Os investidores praticamente descartaram o risco de uma mudança na relação de troca de ações da Telemar e BrT após esse evento, por isso a notícia de hoje foi muito negativa", considera um profissional de mercado.
O valor adicional para as provisões anunciado ontem à noite foi resultado de estudo da BDO Trevisan. A consultoria concluiu que o estágio processual das ações considerado nas estimativas anteriores da Oi é menor que o número de processos com trânsito em julgado.
De acordo com o analista de um grande banco, os papéis da BrT deverão sofrer o maior impacto do anúncio. Ele calcula que a perda para os detentores de ações preferenciais da operadora na relação de troca pode chegar a 10%. Para as ações ordinárias, a perda deve ser da ordem de 3%, por conta da menor quantidade de papéis, estima o analista.
As ações da Telemar devem ser menos afetadas e, em última instância, podem até ser beneficiadas do ponto de vista contábil, já que a empresa pode ter um ágio maior a ser amortizado se a avaliação de BrT diminuir, diz o especialista.
A imagem da companhia, porém, deve sair arranhada do episódio, e o risco de os minoritários da BrT não aprovarem as novas condições da relação de troca de ações é negativo para a empresa, avalia. "A Oi já possui um histórico negativo de governança corporativa e uma estrutura acionária muito complexa, com oito classes de ações", lembra.
(Vinícius Pinheiro)
Fonte: AE Broadcast