São Paulo, 4 - Exatamente como esperavam analistas ouvidos pela Agência Estado, a ata do Copom elevou o tom na avaliação dos riscos de inflação em relação ao documento de dezembro. Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) mais alto, crédito em expansão, mercado de trabalho aquecido e expectativas de inflação foram apresentados pelo Banco Central como fonte de pressão. E, por causa disso, fica muito mais forte a expectativa de que o BC voltará a subir os juros nos próximos meses. O que deve inibir a aposta de que a alta da Selic ocorrerá já na reunião
de março é o fato de as projeções de inflação estarem ainda em linha com o centro da meta. Mas o BC foi enfático na mensagem de que está atento e que, a qualquer sinal de piora das projeções, ele vai agir.
Embora as projeções para o IPCA em 2010 e 2011 no cenário de referência do BC estejam em linha com o centro da meta, a ata destaca que todas as medidas de núcleo de inflação, no critério da variação acumulada em doze meses, subiram. E duas das medidas superaram a meta para a inflação. O BC reitera, ao longo do documento, que o comportamento das expectativas de inflação - que já vêm subindo - é que vai determinar se haverá ou não generalização das pressões de alta de preços.
No parágrafo 9, o BC chama a atenção para o fato de o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) medido pela FGV ter atingido 83,8% em dezembro, ante 82,9% em novembro, patamar superior à média observada nos últimos cinco anos. Especificamente no caso da indústria de bens de consumo e material de construção, o Nuci também está acima das respectivas médias dos últimos cinco anos. A ata alerta ainda que a redução da margem de ociosidade, resultado da expansão da atividade, não é integralmente compensada pela maturação de projetos de investimento.
Já o comércio, tratado no parágrafo 8, tem sua trajetória sustentada pelas transferências governamentais e pelo crescimento da massa salarial real, mas deve ser também afetado pela recuperação das condições de acesso ao crédito e pela evolução da confiança dos consumidores. A ata também aponta o mercado de trabalho como uma variável em recuperação. O documento diz que os aspectos benignos predominam em relação aos sinais de perda de vigor. No documento anterior, o BC havia usado a palavra "resiliência" para falar sobre o comportamento do emprego.
No parágrafo 22, a ata também volta a mencionar o efeito da oferta de crédito como um fator de pressão. O documento diz que os efeitos cumulativos e defasados da distensão das condições financeiras e do impulso fiscal e creditício (este último não havia sido citado na ata de dezembro) representam o principal risco para o cenário de inflação. Já do lado externo, a preocupação é o comportamento dos preços das
commodities. O parágrafo 18 já havia mencionado que a "trajetória dos índices de preços ao produtor evidencia retomada, ainda que incipiente, de pressões inflacionárias externas". E que a influência do cenário internacional sobre o comportamento da inflação doméstica "poderia deixar de ser benigna, se persistir considerável incerteza sobre o comportamento de preços de ativos e commodities". É bom lembrar, no entanto, que os preços das commodities cederam recentemente - o que levou o Banco Central da Austrália a contrariar as expectativas de não subir os juros. (Lucinda
Pinto)
Fonte: AE Broadcast