SÃO PAULO - Repetindo o resultado dos últimos seis meses, a Vale (
VALE5) manteve a liderança nas carteiras recomendadas para o mês de julho. O segundo lugar ficou novamente com a Petrobras (PETR4), enquanto o terceiro lugar foi ocupado pela Gerdau (
GGBR4), que recuperou a posição no ranking após ter sido ultrapassada pelo Itaú Unibanco (
ITUB4) no mês passado.
As carteiras consideradas este mês, que incluíram bancos e corretoras, foram: BB Investimentos, Souza Barros, Morgan Stanley, Omar Camargo, Citigroup, Planner, Itaú, XP Investimentos, Link Investimentos, Bradesco, BTG Pactual, Ágora, Geração Futuro, Socopa, Bank of America Merrill Lynch, Senso, SLW, Ativa, Win, Banif, Coinvalores, Amaril Franklin, Spinelli e Fator.
Cautela com a China não ofusca boas perspectivas
Os ativos preferenciais da Vale seguem como preferidos dos analistas para julho, com 20 recomendações entre 24 carteiras compiladas. Vale destacar que, em junho, a mineradora havia conquistado 23 recomendações entre 26 carteiras compiladas. A preocupação com a queda no ritmo de crescimento econômico na China manteve a companhia em foco nos últimos dias, mas não ofuscou as boas perspectivas para a mineradora.
Diante das incertezas chinesas, o mercado mostrou cautela com uma redução nas exportações da Vale, visto que a China é o principal cliente externo da companhia. Apesar disso, a
expectativa é que os ajustes no preço do minério de ferro na nova base, agora trimestral, que estão sendo implementados ao longo desse ano, impulsionem o lucro da companhia em 2010, com impacto forte já no resultado relativo ao segundo trimestre, que será divulgado no dia 29 de julho.
Pedro Galdi, estrategista-chefe da SLW, se baseia em números para mostrar porque está otimista com a empresa. O analista leva em consideração um aumento de 90% no preço do minério de ferro no segundo trimestre (o mercado chegou a mencionar reajuste de 110% com alguns consumidores), ao lado de uma evolução nas vendas de 15%.
Com essas premissas, a Vale teria dado um salto nas vendas, nos últimos três meses, de 57 milhões de toneladas de minério de ferro para 65 milhões de toneladas. O faturamento bruto, considera Galdi, avisando que nessas contas não está considerando o negócio com pelotas, teria passado de R$ 6,7 bilhões para R$ 14,7 bilhões – ou seja, teria mais do que duplicado.
Para o Bradesco, em relatório assinado por Raphael Biderman e Gina Montone, o novo sistema de precificação deve ter ocasionado um
aumento de mais de US$ 4 bilhões no Ebitda (geração operacional de caixa) da companhia no trimestre passado.
Além disso, com as tensões nos mercados europeu e norte-americano aumentando no último mês, aliadas ao medo de desaceleração da economia chinesa, as ações de empresas brasileiras estão baratas, na
visão dos analistas do BTG Pactual.
Pensando nisso, a equipe de research do banco aumentou sua exposição à empresas domésticas, com destaque para a Vale. “Nós decidimos aumentar nossa exposição à Vale, depois da fraca performance recente das ações, além de acreditarmos em bons resultados no segundo trimestre”, disseram os analistas Carlos Siqueira e Antônio Junqueira.
Petrobras tem menos votos, mas mantém segundo lugar
Mantendo a segunda posição no ranking, os papéis da Petrobras receberam 14 recomendações em julho. Para a estatal, as boas perspectivas decorrem do agitado noticiário sobre a companhia, que inclui principalmente a
capitalização. Cabe mencionar que no último mês os papéis preferenciais da petrolífera tinham recebido 18 recomendações entre as 26 carteiras apuradas.
Com o preço do barril de petróleo do pré-sal ainda sem definição e os mercados muito voláteis, a empresa
adiou para setembro a tão esperada oferta pública de ações.
Com dados sobre prazos, volumes, captação e investimentos ainda pouco definidos, os papéis da petrolífera sentem “na pele” as pressões da incerteza. Desde o início do ano, a queda no preço das ações PETR4 soma quase de 25%, enquanto o Ibovespa recuou mais de 8% no período, levando em conta os dados até a último segunda-feira (12).
Outro sinal dessa pressão em cima da Petrobras está na análise de corretoras. O atraso da capitalização e a falta de detalhes sobre a operação e a cessão onerosa já levaram as equipes de research das corretoras
Geração Futuro e
Link Investimentos a reverem suas posições na petrolífera, retirando-a de suas carteiras recomendadas do mês de julho, enquanto a
Ágora teve igual decisão um mês antes.
Como expôs o analista do Deutsche Bank, Marcus Sequeira, em relatório, os papéis da Petrobras devem continuar sofrendo até que as incertezas sobre o aumento de capital sejam esclarecidas. Contudo, ele avalia que, mesmo com o adiamento até setembro da oferta pública, é possível que a companhia prorrogue ainda mais o prazo por conta das eleições de outubro e o clima volátil nas bolsas. “Quanto maior a espera, maior a pressão”, alertou Sequeira.
Para André Spolidoro, gestor de renda variável da Nobel Asset Management, mesmo com os investidores mais temerosos com a falta de clareza da capitalização e desconfiando do próprio setor de petróleo, quando analisada a gestão de portfólios, os papéis da Petrobras estão atrativos para investimentos de longo prazo, especialmente se comparado aos pares externos.
“Se olharmos os fundamentos da empresa, estimando uma oferta pública de ações a preço de mercado e uma capitalização de US$ 55 bilhões, sendo US$ 30 bilhões para a cessão onerosa – barris correspondentes à parte do governo – e os outros US$ 25 bilhões para caixa, descontando disso um preço de barril em torno de US$ 3, o PL da companhia fica em 6 vezes, enquanto a indústria internacional trabalha com múltiplos entre 7 e 9 vezes”, explicou.
Por conta disso, ele acredita que o principal temor do mercado está mesmo na precificação do barril e no impacto que a necessidade de capitalização via mercado de US$ 25 bilhões traria.
“Existe um risco de que a colocação na oferta da Petrobras fique tão barata em relação às outras ações da bolsa que acabe levando investidores a tirar posições de outros papéis para comprar as ações da estatal. Ou seja, a capitalização pode pesar no índice como um todo”, apontou.
Dados operacionais da petrolífera também sustentam as boas perspectivas para o futuro. A Petrobras alcançou no último dia 3 de julho seu
recorde histórico de processamento, com 2,02 milhões barris/ dia de petróleo em suas refinarias. Com isso, a estatal superou em 4% seu recorde anterior, de 1,942 milhão barris/dia.
Gerdau reconquista a terceira colocação
A Gerdau completa o pódio do mês de julho, com 10 recomendações para seus ativos preferenciais. A terceira colocação no ranking das ações mais recomendadas nas carteiras para o sétimo mês do ano foi reconquistada pela siderúrgica, após ter sido ocupada pelo Itaú Unibanco em junho.
A Ágora corretora
elevou recentemente o preço-alvo e a recomendação para as ações da Gerdau, tendo como base perspectivas ainda mais favoráveis para a demanda por aço tanto no Brasil quanto no exterior. Avaliando o fluxo de caixa descontado e os múltiplos da Gerdau, a equipe de research da Ágora possui target de R$ 38,20 por ação para o mês de dezembro deste ano e recomenda compra do papel.
“Ressaltamos que o expressivo potencial de valorização encontrado corrobora para a nossa recomendação de compra para as ações da Gerdau”, declarou a corretora, em relatório. Além do potencial de valorização elevado vislumbrado por analistas, outros fatores relacionados às perspectivas para o setor siderúrgico também levaram a equipe a sugerir o investimento nos papéis da Gerdau.
Um deles faz referência à projeções para o consumo de aço na maior economia do mundo. “Expectativa de que os pacotes de investimentos em infraestrutura anunciados nos Estados Unidos deverão estimular a demanda por aços longos a partir do segundo semestre de 2010” é um dos fatores que elevam o otimismo, pontuou a equipe de research da Ágora.
Novos investimentos da Gerdau também alimentam as boas perspectivas dos analistas. A companhia
anunciou recentemente um novo investimento na usina de Ouro Branco, em Minas Gerais, através da compra dois novos laminadores, um destinado à produção de chapas grossas e outro para a fabricação de bobinas à quente. Os equipamentos somam R$ 2,4 bilhões em investimentos e devem alcançar uma capacidade instalada de 1,9 milhão de toneladas por ano, podendo ser expandida para até 3 milhões.
"Estamos investindo para atender ao mercado brasileiro e global, frente à expectativa de crescimento da demanda por aço nos próximos anos", afirmou o diretor-presidente da empresa, André Gerdau Johannpeter, por meio de comunicado ao mercado.
Segundo a companhia, os principais equipamentos já foram comprados e devem iniciar suas operações em 2012. Os laminadores devem atender à indústria petrolífera, naval, de construção civil (construção metálica) e de equipamentos pesados (máquinas e implementos).