SÃO PAULO – Repetindo o resultado dos últimos 3 meses, a Vale manteve a liderança nas carteiras recomendadas para o mês de abril. Entretanto, o segundo lugar trouxe uma surpresa: a Gerdau deixou a Petrobras para trás e acumulou a vice-liderança nas recomendações dos analistas. Os ativos da estatal, que geralmente se alternam com os da Vale nas duas primeiras posições, ficaram em terceiro.
As carteiras consideradas este mês, que incluíram bancos e corretoras, foram: Ágora, Amaril Franklin, Ativa, Brascan, Bradesco, BB, BTG Pactual, Citi, Coin, HSBC, Itaú, Link, Omar Camargo, Pax, Planner, Santander, Senso, Souza Barros, Spinelli, Socopa, SLW, XP Investimentos e Win.
Alta do minério norteia recomendações
Os ativos preferenciais da Vale seguem como preferidos dos analistas para abril, com 19 recomendações entre 23 carteiras compiladas. As renegociações do preço do minério de ferro mantiveram a empresa em foco nas últimas semanas, e servem como base de grande parte das recomendações. O noticiário envolvendo a mineradora incluiu ainda rumores de uma abertura de capital da empresa na bolsa de Hong Kong.
A confirmação de um acordo com 97% dos seus clientes para
novas condições de precificação do minério de ferro foi vista de maneira positiva pela equipe da Ativa e também pela Ágora, que destacaram os impactos que estes reajustes deverão trazer aos resultados da companhia no segundo trimestre deste ano, bem como a continuidade de uma política comercial mais flexível.
Na visão do analista Raphael Biderman, da Bradesco Corretora, o preço do minério de ferro deve subir 160% no primeiro semestre – 90% deles somente em abril -, para que a Vale consiga equivaler seu preço à média cobrada pelo mercado em geral. Em seguida, o custo da commodity deverá sofrer nova alta de 36% em junho para alcançar o preço praticado no mercado à vista.
"Conversamos com a equipe de Relações com Investidores da mineradora, que disse que os clientes que ainda estão ajustando os preços em calendário anual (aqueles fora da Ásia) - os quais estimamos que representam 25% a 35% das vendas da Vale -, serão responsáveis pelo impacto do novo preço do minério nos resultados do primeiro trimestre, visto que os contratos foram assinados antes do fim do 1T10", afirmou Biderman em relatório publicado no início do mês.
O Bank of America Merrill Lynch também viu o novo sistema de precificação como algo “muito positivo”, destacando que se os preços à vista continuarem nos níveis atuais, o preço do minério de ferro deverá avançar outros 24% no terceiro trimestre deste ano, chegando à marca de US$ 137 por tonelada métrica.
A alta do minério não foi bem recebida por todos – a CISA (Associação de Ferro e Aço da China), por exemplo,
defendeu que as empresas do setor do país boicotem o minério vendido pela Vale, BHP Billiton e Rio Tinto, as três maiores mineradoras do mundo. Entretanto, de acordo com analistas, as ameaças das siderúrgicas chinesas ainda devem causar muito barulho, mas terão pouco efeito prático para a Vale.
O crescimento do mercado spot também foi destacado por diversos analistas. Antes quase insignificante, atualmente ele corresponde a quase metade de todo o comércio marítimo de minério de ferro, permitindo com que as siderúrgicas, no auge da crise financeira, pudessem romper os contratos firmados no benchmark e comprar o minério de ferro a patamares mais baratos. "No ano passado, a Vale segurou um rojão muito pesado. Aquilo que a gente tinha como segurança, que eram os contratos de longo prazo, boa parte dos clientes simplesmente falou: olha, o mercado mudou, então não tem contrato", disse Roger Agnelli, presidente da Vale, no começo de março deste ano. "E agora eu também estou na condição de dizer o seguinte: o mercado mudou, então está faltando minério", acrescentou.
Considerando essa expansão, o Deutsche Bank publicou na última semana um relatório no qual desenha um cenário alternativo, em que o mercado spot – que, na visão do banco, é importante para elevar a transparência do mercado de minério de ferro - prevaleceria. O banco mostra que os negócios no mercado à vista podem ser mais rentáveis à mineradora brasileira. “Se os preços do minério de ferro convergirem para nossas projeções, nossa estimativa para o Ebitda da Vale deverá subir de US$ 19,7 bilhões para US$ 26,2 bilhões neste ano e de US$ 22 bilhões para US$ 32,8 bilhões em 2011”.
Gerdau: vice na esteira da Vale
As mudanças no mercado de minério de ferro não beneficiam apenas a Vale e as mineradoras – elas também devem repercutir nas siderúrgicas. Na verdade, de acordo Carlos Sequeira e Antonio Junqueira, do BTG, o setor de siderurgia pode ser até uma opção melhor para se aproveitar do bom momento das commodities, já que os ativos de mineração já podem ter precificado a alta do minério de ferro.
Com isso, os analistas elevaram sua recomendação para os papéis de siderurgia para “overweight” – incluindo a Gerdau. “Além da alta dos preços internacionais, a companhia deve se beneficiar da recuperação da demanda dos EUA no segundo semestre”.
O HSBC também destaca a expectativa de uma melhora da demanda norte-americana como base para sua recomendação à GGBR4, além de uma baixa exposição líquida ao minério de ferro e boas expectativas ao setor de construção civil nacional.
As perspectivas positivas em relação ao mercado imobiliário brasileiro também motivaram a recomendação da Ativa, que vê a empresa como uma das que mais se beneficia de um cenário de expansão do setor imobiliário e investimentos de infraestrutura no País. A Socopa reitera essa visão, destacando que os investimentos previstos no PAC e nos eventos esportivos que serão realizados no Brasil devem elevar a demanda por aços longos. Trazendo ganhos para a empresa.
Apesar de ter classificado os resultados de 2009 como neutros, a Spinelli também recomendou os ativos da Gerdau em sua carteira para abril. De acordo com os analistas, a companhia espera elevar sua capacidade utilizada - atualmente em 75% - nos próximos trimestres, assim como aumentar a margem de ganhos. O atraso dos ativos em relação aos seus pares também rende à empresa uma classificação de “atrativa”.
Petro em terceiro lugar
A Petrobras completa o pódio do mês de abril, com 12 recomendações para seus ativos preferenciais.
De acordo com a Win, a recente valorização do petróleo – que foi impulsionada por melhores perspectivas de recuperação da economia mundial – deve ter um efeito positivo nos balanços da estatal a partir do terceiro trimestre desde ano.
Na visão do Citi, apesar de os ativos terem bom potencial, as questões políticas devem pressionar os papéis. “Nós somos compradores para as ações da Petrobras, mas entendemos que a expectativa de aumento de capital serve para diluir as ações no curto prazo”, afirmam os analistas .
A capitalização da empresa
tem surtido efeito nos papéis ordinários e preferenciais da estatal, que acumulavam, até o fechamento da última segunda-feira (12), variações negativas de 7,47% e 6,27% no ano. Na visão do analista Vitor Figueiredo, da Planner, enquanto as questões relativas ao levantamento de recursos para investimentos por parte da Petrobras não tomarem uma direção clara, os papéis da petrolífera devem continuar sendo pressionados.
Vale mencionar que na última sessão o presidente da companhia, José Sergio Gabrielli,
evitou comentar o recente e conturbado noticiário sobre o projeto de capitalização da empresa, limitando-se a dizer que os prazos para aprovação estão ficando "muito apertados". "No momento em que essa proposta se tornar inviável, estudaremos alternativas", disse Gabrielli. Sobre quais seriam tais alternativas, a resposta do executivo foi enfática: "não vou especular".
A
conclusão da perfuração do poço 3-BRSA-795-RJS (3-RJS-666) da Petrobras ajudou a reforçar as recomendações positivas. A Itaú Corretora por exemplo, afirmou que, apesar de os volumes não serem novidade, os dados são positivos porque confirmam as projeções de volume originais e ajudam a melhorar o entendimento sobre o potencial do bloco.
O Itaú destacou ainda a forte projeção de vendas de produtos derivados do petróleo, além de resultados de uma melhor estrutura de controle de custos, que motivaram os analistas a
elevarem o preço-alvo dos ativos preferenciais para R$ 53,70 em dezembro deste ano.
Entretanto, de acordo com a corretora, embora o
prêmio nos valores do produto em relação aos seus pares
internacionais tenha beneficiado a empresa no quarto trimestre, é pouco provável que isso volte a ocorrer neste ano, já que a alta no preço do petróleo tem poucas chances de ser repassada para o consumidor brasileiro em ano eleitoral, pressionando as margens da estatal.