SÃO PAULO - Desde que foi anunciada, não se fala em outra coisa a não ser a
capitalização da Petrobras (
PETR3,
PETR4). Com o grande potencial de crescimento da já gigante companhia brasileira, muitas perspectivas positivas surgem não apenas para a própria petrolífera, mas também para as outras empresas e companhias que se beneficiarão das operações no pré-sal.
Mas o que temos visto nos últimos dias é um intenso rali nos papéis da Petrobras, fruto da cautela dos investidores ante as incertezas que rondam seu processo de capitalização. Considerando o fechamento de segunda-feira (26), apenas em 2010 os papéis ordinários da empresa acumulam queda de 22,34%, enquanto que as ações preferenciais da estatal caem 22,83% desde o início do ano.
Com um novo marco regulatório em andamento, o sentimento do mercado é de que, embora continue confiante na companhia para os próximos anos, as ações da Petrobras podem continuar sofrendo no curto prazo até que as definições sobre o valor a ser pago pela empresa pelos 5 bilhões de barris do pré-sal e o tamanho da sua oferta de ações sejam finalmente estabelecidas.
Em meio a este cenário adverso, o analista Felipe Jiman Koh, do Citigroup, destacou que o banco não recomenda aumentar "agressivamente" a exposição aos ativos da Petrobras, mesmo estando mais positivo com a companhia do que o mercado parece estar.
"Em nossa opinião, a performance abaixo da média do mercado foi uma garantia, e, dependendo das condições, o tamanho da diluição [do capital após o processo de capitalização] vai limitar o potencial upside que os acionistas minoritários poderão capturar dos resultados da empresa", avaliou o analista do banco.
O que já está precificado?
Na análise do Citi, o movimento de baixa dos papéis da Petrobras neste ano reflete ainda as incertezas em torno do pré-sal, principalmente quanto tempo vai durar para que os ativos desse segmento contribuam para os resultados e dividendos da petrolífera.
"Nós chegamos a um estágio onde os investidores se perguntam quanto deste downside já está precificado e se o call deverá mudar de 'compra' apenas depois do aumento de capital, ou aproveitar uma oportunidade melhor na oferta da companhia", disse Koh.
Mesmo destacando que, com um approach fundamentalista, a Petrobras segue sendo negociada a um valuation atrativo, o Citi destacou que é melhor não construir posições tão agressivas no portfólio com ações da empresa, dado o risco de excesso na oferta de ações.
"Nós temos que destacar que comprar ações da Petrobras agora requer que o investidor acredite que a companhia irá comprar barris do governo federal por um valuation razoável e que, como resultado, sua emissão de ações deverá parecer melhor do que as atuais expectativas do mercado", disse o analista.
Para o Citi, o mercado espera que a Petrobras compre os 5 bilhões de barris de petróleo do governo brasileiro por algo em torno de US$ 35 bilhões a US$ 40 bilhões, fazendo uma oferta de ações no montante de US$ 60 bilhões. "Enquanto o sentimento de risco dos investidores sobre a Petrobras tem aumentado, nós acreditamos que a ação ainda mereça um prêmio devido ao seu crescimento acima da média, sua capacidade de incremento na lucratividade e sua alavancagem aos crescentes preços do petróleo", destacou o Citi.
Por fim, o banco acredita que o spread entre as ações ON e PN da companhia poderá mudar dependendo do processo de bookbuilding no aumento de capital da petrolífera. "Nós acreditamos que o excesso de ações ordinárias deverá ser menor, mas não vemos uma razão fundamental para uma mudança significativa no spread em relação ao seu comportamento histórico", disse Koh.
Recomendação
A despeito do sentimento de cautela ante o atual cenário para a estatal, o Citi manteve sua recomendação de compra aos papéis da empresa, destacando que a companhia "possui um atraente
investment case e um atraente valuation".
"Estamos otimistas com o petróleo, e a Petrobras oferece um dos mais elevados potenciais níveis de alavancagem do mundo aos preços do petróleo devido à sua grande base de recursos ainda não desenvolvidos, seu elevado crescimento de produção, sua elevada alavancagem financeira e, por fim, o sistema de impostos do Brasil favorável ao crescimento dos preços", destacou o analista do banco.
Neste sentido, o Citi determinou um preço-alvo de US$ 62,00 por ADR (American Depositary Receipts) da empresa e um target de R$ 56,00 por ação ordinária da companhia.