SÃO PAULO - O setor de consumo e varejo voltou a ser apontado como o favorito dos analistas nas carteiras do mês de maio. As recomendações para este mês somaram um número maior do que as 29 obtidas
em abril, ficando em 38. O segundo lugar, do setor financeiro, aparece logo atrás, com 28. Já o setor siderúrgico ficou em terceiro lugar, com 25 recomendações de analistas.
As carteiras consideradas este mês, que incluíram bancos e corretoras, foram: Itaú, Brascan, Link Investimentos, Souza Barros, Socopa, Spinelli, XP Investimentos, BB Investimentos, Win Trade, Omar Camargo, Ágora, Senso, Banif, Coinvalores, Ativa, Bradesco, Planner, SLW, PAX, Geração Futuro, Amaril Franklin e Fator.
Consumo: 6 meses na liderança
O setor de consumo completou 6 meses na liderança das carteiras recomendadas, impulsionado pelas perspectivas otimistas para a economia brasileira. O aumento do poder de compra dos consumidores e da massa real efetiva dos assalariados, aliado a uma maior oferta de crédito, foi o principal fator que elevou as vendas do comércio em março, de acordo com a última Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada recentemente pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Segundo o estudo, no terceiro mês do ano, as vendas registraram incremento de 15,7%, na comparação com março do ano passado. O aumento também é reflexo dos efeitos do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido para alguns itens da linha branca que ainda estavam nos estoques das lojas em março.
Setores | Recomendações |
Consumo e Varejo | 38 |
Financeiro | 28 |
Siderurgia | 25 |
Energia & Saneamento | 24 |
Mineração | 23 |
Petróleo e Gás | 20 |
Imobiliário e Construção | 19 |
Industrial | 16 |
Transporte | 16 |
Telecomunicações | 10 |
Papel e Celulose | 4 |
Petroquímico | 4 |
Tecnologia e Internet | 1 |
O setor de consumo também deve se beneficiar de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, o que estimula ainda mais as boas projeções dos analistas de mercado. De acordo com o estudo "Impactos Econômicos da Realização da Copa 2014 no Brasil", divulgado pelo Ministério do Esporte, haverá um aumento de R$ 5 bilhões no consumo das famílias brasileiras entre 2009 e 2014, número equivalente a cerca de 1,3 ano de vendas de geladeiras no Brasil.
Vale lembrar que as expectativas favoráveis ao setor também são influenciadas pela melhora no cenário macroeconômico em relação ao último ano. O gasto médio mensal das famílias brasileiras – com alimentos, bebidas, higiene pessoal e limpeza - registrou um aumento de 8% em 2009, ao atingir R$ 1.663, segundo dados divulgados recentemente pela Apas (Associação Paulista de Supermercados). No ano passado, o mercado brasileiro enfrentava uma retomada da crise financeira de 2008, portanto, as projeções são ainda mais otimistas para este ano.
De acordo com a Apas, o ano de 2005 foi de endividamento dos consumidores brasileiros, quando os gastos estavam acima da renda, enquanto o de 2006 foi de consolidação, o de 2007 foi de gastos com setores em busca da melhor condição de vida e o de 2008, de alerta, devido à crise.
Os números apresentados pela Apas nortearam também as perspectivas do ministro da Fazenda, Guido Mantega. De acordo com ele, a classe C representa mais de 50% da população brasileira e "quase já se pode afirmar" que o Brasil é um País de classe média.
O ministro afirmou que houve um aumento real do salário mínimo e redução das desigualdades, com o aumento da renda e o crescimento da classe C, para a qual migraram as classes D e E. "Quando nós começamos o governo, o mínimo mal comprava uma cesta básica. Hoje, compra quase duas. Quase duplicou o poder de compra do mínimo, o que foi fundamental para a diminuir a pobreza e ampliar o mercado consumidor", afirmou.
Ainda de acordo com Mantega, enquanto o consumo de outros países ficou retraído no ano passado, no Brasil, houve uma forte atuação da classe consumidora formada pela população com capacidade de compra, com renda maior, que estimulou o comércio. Para este ano, o consumo deve ter crescimento entre 8% e 8,5%. A equipe econômica considera esse número importante, pois é baseado nele que as empresas fazem seus investimentos que movimentam a economia do País.
Retomada econômica impulsiona bancos
Em segundo lugar no ranking dos setores mais recomendados de maio, o setor financeiro também segue influenciado pelas boas perspectivas para a macroeconomia, que se refletem em perspectivas positivas ao desempenho dos bancos. Com o objetivo de reunir informações sobre as perspectivas para o setor de bancos no ano de 2010, a Ativa Corretora realizou visitas aos bancos Santander, Itaú Unibanco e Pine, e também participaram do Bradesco Day. Segundo os analistas, houve um consenso por parte das instituições em relação às boas perspectivas para o setor como um todo.
As expectativas positivas em relação ao setor são em função do crescimento do crédito no País, melhora na carteira de
empréstimo, queda da inadimplência e a expectativa de elevação da taxa de juro. “De uma forma geral, as instituições se mostraram bastante animadas com as perspectivas de crescimento do crédito imobiliário e setor de seguros”, finalizou a corretora.
Também influenciando as recomendações ao setor financeiro, a Fitch revelou recentemente que as ações de rating envolvendo bancos em todo do globo se mantiveram predominantemente positivas neste primeiro trimestre de 2010. O número de ações positivas cresceu de 68 no 4T09 para 90 nos primeiros três meses deste ano.
De acordo com os analistas da agência de classificação de risco, esta melhoria da situação dos bancos foi puxada pelos mercados emergentes e pode ser atribuída à tendência positiva geral dos mercados desde meados de 2009.
"Contudo, a Fitch nota que que, apesar do avanço nas grandes economias desenvolvidas, a pressão sobre os bancos só começou a dissipar agora, uma vez que a qualidade dos ativos bancários geralmente se atrasa em relação à recuperação econômica", destacou a agência em seu relatório.
Nos emergentes, a proporção de ações positivas ficou próxima de 92% do total de ações de rating promovidas pela Fitch. A agência de classificação de risco destacou a Federação Russa, "onde o setor bancário teve um desempenho melhor do que o esperado durante a crise financeira global".
Resultados em foco para as siderúrgicas
Em terceiro lugar, aparece o setor de siderurgia, guiado por resultados financeiros. Após a World Steel Association divulgar o avanço de 30,6% na produção global de aço em março, na comparação anual, os analistas da Ágora destacaram que a indústria siderúrgica continua "cautelosa no controle da produção de aço".
A produção global chegou a 120 milhões de toneladas métricas, e a alta foi explicada pelos analistas em função do baixo nível operacional no início do ano passado, período em que o mundo vivia o ápice da crise econômica. A cautela com o controle da produção é explicada pela taxa de utilização da capacidade instalada de cerca de 80%, em linha com fevereiro mas ainda abaixo do período anterior à crise, quando chegou a quase 90%.
Com relação à siderurgia, em termos acionários, os analistas da Ágora possuem recomendação de compra para Gerdau (
GGBR4), CSN (
CSNA3) e Usiminas (
USIM5), "nesta ordem de preferência". Em meio a este cenário, os resultados das siderúrgicas no primeiro trimestre ficam em foco e pesam nas recomendações das corretoras e bancos ao setor. Recebendo o maior número de ratings positivos, a Gerdau
trouxe números neutros, de acordo com o consenso de mercado, mas possui outlook positivo para o futuro.
Na avaliação de Alexander Hacking e Claudia Elisaberh Feddersen, que assinam o relatório do Citi, o resultado no País foi “ligeiramente mais fraco do que o esperado”. No entanto, avaliam que o fato foi compensado pelos números na América do Norte e do Sul. Além disso, destacam o desempenho do Ebitda (geração operacional de caixa), o qual mostrou-se 5% acima das projeções do banco.
Em conclusão, avaliam que a “Gerdau é a melhor ‘qualidade’ no setor de aço do Brasil e a economia e as novas capacidade favorecem a valorização”. Com isso, recomendam compra dos papéis, projetando um preço-alvo de 12 meses a R$ 32,00 por ação.
Por sua vez, os analistas do Itaú Marcos Assumpção e Alexandre Miguel avaliam que “a Gerdau reportou resultados neutros”. Para eles os resultados tanto do Ebitda quanto da margem (relação percentual entre geração operacional de caixa e receita líquida) vieram em linha com as estimativas.
No entanto, assim como o Citigroup, a posição neutra dá lugar ao otimismo quando o tema trata da
conferência da diretoria. “No lado positivo”, avaliam, “a Gerdau forneceu um melhor outlook para os preços domésticos no Brasil (...) o que pode elevar a
confiança dos investidores sobre as ações e levar as projeções de ganhos para 2011”, completaram.