quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cautelosas, corretoras optam por nomes defensivos em carteiras para fevereiro

Por: Tainara Machado
03/02/11 - 12h15
InfoMoney


SÃO PAULO - Janeiro parecia prometer um início positivo de ano para as ações brasileiras, após um decepcionante 2010. Até o dia 12 do último mês, o Ibovespa acumulava alta de 3,36% e reacendia as esperanças dos investidores. No entanto, a inflação e o ciclo de aperto monetário entraram na pauta do mercado, e desde então, descolado das bolsas internacionais, o índice foi perdendo força e fechou o mês com queda de 3,94%, enquanto os índices que medem o desempenho de papéis do setor financeiro, imobiliário e de consumo encerraram o período com desvalorização superior a 7%. 


A alta dos preços e dos juros no Brasil continua amplamente presente nas carteiras sugeridas para o mês de fevereiro, embora com percepções distintas. O combate à inflação, ainda que veladamente, está presente na estratégia da ampla maioria dos portfólios recomendados para o mês. 


Descontando excesso
Alguns adotam postura um pouco mais agressiva, como vez o Bank of America Merrill Lynch em seu Brazil Core Portfólio. Avaliando o que considerou um "excesso" dos mercados, com a forte realização que sofreram as empresas mais sensíveis a um ciclo de alta de juros, a equipe de análise do banco de investimentos optou por explorar essa oportunidade. 



Assim, o BofA aumentou o peso de imobiliárias no portfólio, além de continuar com posição menos favorável a varejistas. Dentro dessa estratégia, o banco optou por adicionar a MRV Engenharia (MRVE3) à carteira, já que a empresa apresenta projeção elevada de ganhos por ação, sustentada por percepção de que a receita também deverá avançar em 2011 e, apesar disso, teve performance inferior a de seus pares recentemente.


Bancos também marcam presença
O BofA ainda manteve recomendação overweight (exposição acima da média) para financeiras, uma posição que é observada na ampla maioria das carteiras, já que também é um setor com boa dinâmica mesmo em períodos inflacionários. Na da Ativa, por exemplo, o setor, com 12% de participação, só perde em representação para mineração e petróleo, que têm 19% e 15% do portfólio, respectivamente. 



Apesar disso, o Itaú Unibanco (ITUB4) passou a ser preterido por outras instituições. O Credit Suisse, por exemplo, substitui o banco pelo Bradesco (BBDC4), pois acredita que este último terá condições de performar melhor durante a temporada de resultados referentes ao quarto trimestre, além de também ter parte do negócio voltado ao setor de seguros. HSBC e BTG Pactual, por sua vez, trocaram Itaú por Banco do Brasil (BBAS3).


CCR: player defensivo
Do lado mais defensivo, o BTG Pactual sugere que, diante do atual cenário macroeconômico, ações cujas receitas são automaticamente ajustadas pela inflação passada, tais como geradoras de energia (AES Tiete, Tractebel), operadoras de shopping centers (BR Malls, Aliansce) e concessionárias de rodovias (CCR e Ecorodovias), devem se sair bem. 



Não à toa, a CCR (CCRO3) é um dos destaques de fevereiro. As ações da empresa passaram a fazer parte da carteira da Spinelli, por exemplo, por se tratar de "um player defensivo", que pode proteger uma carteira em caso de queda acentuada da bolsa no período. OBB Investimentos, que trabalha com um cenário-base de queda para fevereiro, também optou por incluir as ações da companhia em seu portfólio para o mês. 


O grande trunfo da CCR, além de ser uma empresa pouco alavancada, está na sua capacidade de repasse integral do aumento dos preços para as tarifas de pedágio.


Após queda, Lojas Renner é vista como oportunidade
Outra tendência amplamente observada é a volta da Lojas Renner (LREN3) às carteiras em fevereiro. Após a queda de 14,2% no último mês, as corretoras tenderam a considerar a penalização suficiente. O Credit Suisse, por exemplo, recomenda diminuição da exposição ao setor de consumo, pricipalmente para que a carteira tenha foco mais centrado no crescimento global. 



No entanto, apesar da remoção de Pão de Açúcar (PCAR5) e AmBev (AMBV4), os analistas do banco de investimentos preferiram adicionar Lojas Renner ao portfólio, lembrando a queda recente dos papéis. O BTG Pactual avalia que o valuation está agora menos esticado, e mais alinhado com os riscos acima da média de execução de seu arrojado plano de expansão.


A mesma visão é compartilhada pela Planner, que observa uma "bela oportunidade de investimento" após a desvalorização recente. "A empresa conta com fundamentos sólidos e está inserida em um setor que muito se beneficiará do aumento médio da renda e dos níveis recordes de baixo desemprego projetados para os próximos anos", apontou ainda a corretora.


OGX por Petrobras
Já a OGX (OGXP3) perdeu espaço para a Petrobras (PETR3PETR4). A XP Investimentos foi uma das corretoras que optou por manter seu peso destinado a petróleo e gás com redução da exposição à OGX e aumento da participação das ações ordinárias da Petrobras na carteira, que passou de 12% para 15%. 



"A elevação da Petrobras é resultado não só dos seus sólidos fundamentos, mas em função da alta que temos observado no seu principal produto, o petróleo", observou a XP. As ações da OGX também têm menos peso que Petrobras nos portfólios do HSBC e do BTG Pactual. 


Este último, no entanto, manteve intactos os 5% destinados à petrolífera do grupo EBX acreditando que em algum momento o farm-out (venda de direitos de concessão detidos pela empresa) irá ocorrer, o que "definitivamente" será um catalisador para os papéis, embora a instituição não deixe de lembrar que não há sinais que indiquem que o processo será retomado ainda este mês.