terça-feira, 15 de junho de 2010


Por: Julia Ramos M. Leite
14/06/10 - 20h00
InfoMoney



SÃO PAULO – O mês de maio foi bastante turbulento para a bolsa brasileira. Abalado pela volta do sentimento de aversão ao risco, o Ibovespa recuou 6,6%, amargando seu pior mês desde outubro de 2008, auge da crise do subprime. Esse desempenho se reflete nos fundos de ações brasileiros – que, por definição, devem possuir no mínimo 67% de sua carteira em ações, bônus ou recibos de subscrição, certificados de depósito de ações, cotas de fundos de ações, cotas dos fundos de índice de ações ou BDRs. Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), apenas uma das 17 subcategorias de ações registrou rentabilidade positiva no mês.


Mas além da rentabilidade negativa, os fundos de ações registraram forte resgate já a partir da segunda semana de maio – resgates esses concentrados especialmente no segmento de varejo. Isso indica que parte dos investidores pode estar adotando uma abordagem mais cautelosa com a renda variável, abalados pelo mau momento dos mercados. Mas a melhor opção é realmente tirar os investimentos ligados a renda variável?


Foco no longo prazoAntes de retirar seu dinheiro de fundos de ações é preciso lembrar que a bolsa é um investimento de longo prazo – e, na visão de grande parte dos analistas de mercado, a tendência da bolsa segue positiva para 2010, acompanhando o crescimento da economia brasileira e a recuperação global.


Assim, os investidores que têm como objetivo construir patrimônio em bolsa devem manter a tranquilidade e não correr para retirar suas aplicações – mesmo porque o Ibovespa vai, na visão do mercado, superar a volatilidade e voltar a subir. Com isso, quem retirar os investimentos agora vai “vender na baixa” – ou seja, vender com prejuízo ou abaixo do valor que poderia conseguir pelo ativo – em parte por falta de paciência de esperar que o mercado retome a tendência positiva.


O mesmo argumento é válido para os fundos de ações – que, assim como a bolsa, são investimentos de longo prazo, o que significa que a volatilidade momentânea não deveria preocupar o investidor, a não ser que esteja ligada a fundamentos de empresas ou da economia.


Um agravamento da crise europeia, por exemplo, passando a pesar mais sobre as perspectivas para a economia global, ou caso o sistema bancário norte-americano tenha sua atuação muito restrita por novas leis, mudando o panorama do sistema financeiro mundial, seriam cenários que podem mudar as expectativas não só para a bolsa brasileira, mas também para a renda variável global. Assim, esses são casos que devem ser analisados mais de perto.


Entretanto, as principais preocupações parecem ser mais no curto prazo do que nos fundamentos – o que pode indicar um ponto de entrada não só na bolsa, mas também em fundos de ações. “Acreditamos que os fundamentos da economia brasileira continuem favoráveis e no médio/ longo prazo os investimentos em ações devem apresentar bons resultados”, afirmaram recentemente os gestores da Votorantim Asset, em sua carta mensal de investimentos.


PerfilMas, mesmo com as perspectivas positivas no longo prazo, há os investidores que vão decidir retirar suas aplicações de fundos de ações por não se sentir confortável com a volatilidade da bolsa este ano. Esse investidor deve aproveitar esse momento e reavaliar seu perfil como investidor, reconsiderando o prazo de seus investimentos e sua real propensão a riscos.
Com um perfil mais preciso, o investidor pode montar uma carteira de aplicações que seja mais adaptada a suas necessidades, evitando prejuízos causados por uma simples inadequação de perfil.


IROutro ponto a se considerar quando se pensa em sair de um fundo de ações é o imposto de renda. De acordo com a Anbima, essa categoria de fundos já tem a menor alíquota de IR da indústria de fundos brasileira: 15%.


Por já ter a alíquota mínima, o imposto pago sobre esse tipo de investimento não diminui ao longo do tempo – como acontece, por exemplo, com investimentos de renda fixa, nos quais a alíquota de IR começa em 22,5% e diminui dependendo do tempo em que o investidor mantém a aplicação.


Caso o investidor opte por resgatar seu patrimônio de um fundo de ações para colocá-lo, por exemplo, em um fundo multimercado, ele não carrega essa tarifa mínima – estando assim sujeito a começar seu investimento com uma alíquota maior de imposto de renda. Isso porque esse dinheiro é considerado, para fins de imposto de renda, como “novo” e não como uma transferência – ou seja, é como se o investidor estivesse tirando dinheiro “do bolso” e aplicando em um fundo.


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