São Paulo, 18 - As dúvidas do mercado em relação à capitalização da Petrobras refletem a indefinição ainda existente dentro do próprio processo de estruturação da oferta pública. De acordo com uma fonte próxima à companhia, o formato da operação não está fechado, mas uma das alternativas que tiveram maior "aderência" nas conversas até o momento prevê fixar o valor que entrará no caixa da companhia em cerca de US$ 25 bilhões. Este montante, a ser usado no plano de investimentos, previsto para ser anunciado hoje, seria captado junto a acionistas minoritários e outros investidores do mercado.
A outra parte da oferta seria captada com o governo, que fará uma cessão onerosa de até 5 bilhões de barris de petróleo. A diferença é que a parcela do governo não envolve dinheiro, mas apenas a troca de concessão de áreas de exploração de petróleo por ações. "Determinar a parcela do mercado em função da necessidade de Capex (investimento) ainda não está definido, mas parece ter mais sentido e aderência nas conversas atuais", informa a fonte.
Segundo esta alternativa, o governo poderia eventualmente aumentar sua participação acionária na empresa. Se o barril for precificado entre US$ 5 e US$ 6 - valor estimado pela maioria dos analistas - a parcela do governo na oferta seria de US$ 25 bilhões a US$ 30 bilhões. Mantida a meta de captar do mercado US$ 25 bilhões, o aporte do governo representaria um avanço de sua fatia na Petrobras, hoje em 32%.
De acordo com a fonte, o preço do barril é um dos principais pontos em aberto e, por isso, ainda não é possível calcular nem a participação do governo na oferta nem o valor total da capitalização. Mesmo assim, a fonte diz que alguns valores mencionados em relatórios de analistas, em torno de US$ 90 bilhões, "parecem pouco lógicos".
A forma de "casar" a oferta ao mercado e a cessão onerosa é outro aspecto ainda em aberto na capitalização. Isso porque a operação é uma só e a Petrobras já avisou que seguirá as normas de uma oferta pública, ou seja, não poderá fazer nada direcionado para privilegiar o governo.
Em comunicado ao mercado, a Petrobras não deixou claro se haverá direito de preferência para os atuais acionistas, mas a fonte diz que eles (governo e minoritários) serão priorizados na oferta de ações. A expectativa, no entanto, é de que haja espaço para a entrada de novos investidores no capital da empresa, em especial fundos globais estrangeiros que sejam investidores considerados de alta "qualidade", de acordo com a fonte.
Outro ponto delicado a respeito da oferta é a possível influência do governo sobre a precificação, uma vez que a definição da faixa de preço neste tipo de oferta é feita pelas próprias empresas emissoras. Além de ser o maior comprador na oferta, o governo tem a presidência do conselho de administração da estatal, cargo ocupado atualmente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ou seja, terá um peso importante na definição de faixa de preço sugerida para a ação.
Independentemente da influência política, o grande peso do governo na compra das ações já seria suficiente para dar relevância ao seu papel na operação. Isso porque ao dizer quanto está disposto a pagar por ação, terá uma grande influência sobre o preço médio, que fechará o book.
A intenção da petroleira é protocolar o registro da sua oferta pública de ações o mais rápido possível para precificar a operação antes do final de julho, mas a complexidade da operação poderá dificultar o cumprimento destas metas. "O mercado abriu janelas para a oferta da Petrobras, mas o processo não é simples", afirma.
(Natalia Gómez)
Fonte: AE Broadcast