São Paulo, 25 - A quinta-feira deve ser novamente de ajuste negativo na Bovespa, refletindo não apenas o mau humor externo, mas também as alterações nos compulsórios bancários anunciados ontem à noite pelo Banco Central. Na Bolsa, o impacto dessa reversão dos estímulos monetários deve aparecer com mais nitidez nos papéis dos bancos. A expectativa é de queda para as ações do setor num primeiro momento. Há pouco, o Ibovespa futuro registrava baixa de 1,66%, aos 65.285 pontos.
Para os bancos, a medida é negativa porque restringe a liquidez no sistema financeiro. "Os bancos terão menos recursos para destinar ao crédito. Na prática, a taxa Selic não sobe, mas o spread tende a aumentar para o tomador final, com o aumento do custo de captação", afirma o sócio gestor da Humaitá Investimentos, Márcio Macedo. E o que o governo deseja com essa medida é justamente esfriar a demanda por crédito para evitar risco de inflação.
O Banco Central vai recolher R$ 71 bilhões dos R$ 99,8 bilhões injetados no sistema financeiro em 2008 em depósitos compulsório para irrigar os bancos. Desses R$ 71 bilhões, R$ 34 bilhões se referem à reversão do compulsório dos depósitos a prazo. Os outros R$ 37 bilhões serão depositados no BC a partir de 22 março, quando será restaurada a alíquota de 8% para os chamados compulsório adicional, cobras nos depósitos à vista e a prazo (antes 5% e 4%, respectivamente). Os recolhimentos só poderão ser feitos em espécie, e não mais em títulos.
Do ponto de vista do mercado de juros, essa mudança em compulsório tende a afastar a aposta de alta da Selic em março. Mas como anotou a editora Patrícia Lara dois indicadores divulgados hoje reforçam que o BC pode ter de agir em abril. O IGP-M de fevereiro, que subiu 1,18% em fevereiro, a maior taxa para este indicador desde julho de 2008, e a taxa de desemprego que subiu em janeiro para 7,2% ante 6,8% em dezembro, embora tenha ficado abaixo do piso das previsões.
No caso do Banco do Brasil, a reação ao compulsório pode ser encoberta pelo balanço divulgado hoje cedo. O Banco do Brasil se consolidou no quarto trimestre do ano passado como a maior instituição financeira do Brasil. O volume de ativos do banco federal, que em dezembro de 2009 somava R$ 708,549 bilhões, supera em pouco mais de R$ 100 bilhões o segundo colocado, Itaú Unibanco. O BB registrou em 2009 lucro contábil de R$ 10,148 bilhões, alta de 15,3% na comparação com igual período do ano anterior. O lucro recorrente do BB foi de R$ 8,506 bilhões, avanço de 27,2% na comparação com 2008. O banco também anunciou que pagará 40% do lucro do quarto trimestre como remuneração aos acionistas, num total de R$ 1,662 bilhão.
Além do BB, outras empresas de porte anunciaram resultados. Usiminas teve lucro líquido de R$ 633 milhões no quarto trimestre, com queda de 32% sobre o mesmo período do ano passado, superando as projeções dos analistas, que esperavam R$ 380,1 milhões, o que representaria uma queda de 54,5%. Em 2009, o lucro líquido também apresentou queda, de 58%, para R$ 1,344 bilhão.
Já a siderúrgica Gerdau mais que dobrou o seu lucro líquido no quarto trimestre de 2009, passando de R$ 311 milhões no mesmo trimestre de 2008 para R$ 643,5 milhões. No acumulado do ano, entretanto, o lucro apresentou queda de 79,6%, para R$ 1,005 bilhão, ante R$ 4,945 bilhões em 2008.
Ontem à noite, a Natura registrou lucro líquido consolidado no quarto trimestre do ano passado de R$ 186,6 milhões, crescimento de 34,7% sobre igual período de 2008.
No externo, o temor de downgrade da Grécia, após alertas das agências de rating mantém as bolsas internacionais sob pressão, na medida em que renovam as preocupações com a situação fiscal de países da zona do euro. A Bolsa de Londres caía 0,78%. Nos EUA, o S&P 500 recuava 0,98% e o Nasdaq -0,85%. O dados de pedidos semanais de auxílio-desemprego contrariou as expectativas e teve crescimento de 22 mil solicitações. Já as encomendas por bens duráveis subiram 3% em janeiro, acima da previsão dos economistas e aumento de 1,5%.
Fonte: AE Broadcast