São Paulo - O mês de dezembro foi atípico para a bolsa brasileira, que esperava pelo tradicional rali de fim de ano, mas acompanhou um mercado fragilizado pelas incertezas no cenário externo, fazendo com que apesar de mostrar certa recuperação no fim do mês, a bolsa não conseguisse reverter as perdas, fechando com recuo 0,21%, aos 56.754 pontos.
O mercado acompanhou no períodoameaças de rebaixamento dos ratings da União Européia e da França, bem como reduções de projeções de crescimento tanto para os países daEuropa, como para os Estados Unidos. Além disso, o rendimentos dos títulos públicos em leilões europeus permaneceram no radar durante quase todo o mês de dezembro.
Já no final do período, o mercado mostrou melhora, principalmente por conta dos dados norte-americanos, que deram sinais de recuperação da economia por lá. No front doméstico, em termos de política monetária, o Copom (Comitê de Política Monetária) ratificou as expectativas e cortou em 0,5% a taxa básica de juros na última reunião do ano.
Cautela para o início do ano
O analista da SLW Corretora, Pedro Galdi, lembra que o mês começa com a divulgação de dados positivos sobre a indústria e desemprego em diferentes partes do mundo, inclusive na Europa. No entanto, como se trata de período de férias, ainda deve ser registrada fraqueza nos volumes diários pelos primeiros quinze dias do mês.
Além disso, o mercado deve permanecer na expectativa por notícias mais concretas sobre a solução da crise na Zona do Euro. Para Galdi, ainda existem riscos de curto prazo, como no caso de prováveis rebaixamentos da nota soberana dos países, bancos e até províncias no velho continente.
Redecard: cenário interno atrativo
Diante das incertezas decorrentes da crise europeia, as casas de research têm demonstrado cautela no momento de definir a carteira de recomendações para janeiro. Com isso, ganham visibilidade os papéis de companhias mais ligadas ao consumo doméstico e com expectativas de resultados corporativos mais consistentes para os próximos trimestres.
Dentro desse cenário, a preferências das corretoras tem sido pelas empresas de cartão de crédito, com destaque para a Redecard (RDCD3), que acompanhou o aumento de suas recomendações de quatro para seis entre os meses de dezembro de 2011 e janeiro deste ano. A Cielo (CIEL3) manteve o mesmo número de citações do mês anterior, aparecendo em três portfólios.
A equipe de análise da Geral Investimentos afirma que as empresas de cartão de crédito possuem um perfil que relaciona forte geração de caixa e nenhuma exposição ao mercado externo, além de boas perspectivas de crescimento geradas pela utilização de meios de pagamentos alternativos. "Além disso, tanto a Redecard como a Cielo possuem dividend yields interessantes", explica a corretora.
AmBev: na esteira do aumento do consumo
A AmBev (AMBV4) aumentou três votos nas citações das carteiras de janeiro, se comparado ao mês anterior, passando de quatro para sete votos no período.
Na percepção da Geral Investimentos, a AmBev deve continuar apresentando crescimento em sua geração de caixa e em seu fluxo de dividendos. A corretora acredita que, em 2012, os volumes devem melhorar em função do aumento do salário mínimo, do crescimento das classes C e D, pela inovação em produtos e embalagens e crescimento de consumo dos segmentos premium, que incluem as marcas Budwiser, Stella Artois, Bohemia Original e Chopp Brahma.
"Outro ponto positivo é a expansão da capacidade produtiva com a construção de uma fábrica em Pernambuco", lembra a equipe de análise da corretora.
O analista responsável pela carteira da Walpires, Leandro Pires, explica ainda que a empresa possui "tendência altista no preço de suas ações, além de excelente gestão e é favorecida pelo aumento de consumo e grande presença em seu setor".
BR Foods: resultados consistentes chamam a atenção
Os estrategistas Carlos Nunes, Débora Agonilha e Flávia Araújo, da HSBC Corretora optaram em janeiro por aumentar a exposição às ações de Br Foods (BRFS3), com a justificativa de que a empresa tem o balanço mais sólido do setor de alimentos no Brasil.
Outro argumento é que a administração está comprometida com a entrega de uma forte agenda de aquisições e investimentos em novos projetos no exterior, com foco em produtos processados nos mercados emergentes de rápido crescimento.
Além disso, para os analistas da Rico Corretora, a empresa ainda tem a expectativa de atingir sinergias, antes dos impostos e participações, em torno de R$ 560 milhões para 2011 e próximo a R$ 1 bilhão por ano entre os exercícios de 2012 e 2013. As sinergias e investimentos devem levar a empresa a atingir um faturamento líquido em torno de R$ 50 bilhões em 2015.
Copel: setor defensivo ganha destaque
O setor de energia vem sendo bem cotado pelo mercado em tempos em que as incertezas ainda rondam o cenário externo. Entre as empresas do setor, a Copel (CPLE6) vem se destacando no número de recomendações em carteiras, sendo citada em janeiro em seis portfólios, ante as quatro recomendações de dezembro.
O analista da SLW, Pedro Galdi, afirma que a preferência pela CPLE6 deve-se ao fato de que as cotações das ações preferenciais da Copel apresentaram uma excelente performance em 2011 em relação ao Ibovespa e ao IEE (Índice de Energia Elétrica), refletindo o bom desempenho operacional e financeiro no terceiro trimestre de 2011. "Acreditamos que essa situação se mantenha, dadas as boas perspectivas de resultado também para o 4T11", afirma.
Além disso, a nova estratégia que inclui um programa de fortalecimento de negócios na área de energia e alterações positivas na política de distribuição de dividendos também poderá contribuir para a continuidade da correção dos preços das ações no curto prazo.