segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mesmo vendo desconto nos papéis, BofA ML reduz preço-alvo da Petrobras

Por: Julia Ramos M. Leite
27/09/10 - 16h59
InfoMoney


SÃO PAULO – Levando em conta a diluição causada pela oferta de ações, o Bank of America Merrill Lynch cortou o preço-alvo para os ADRs (American Depositary Receipts) e para as ações da Petrobras (PETR4). Agora, as projeções são de US$ 53 por ADR (frente US$ 63 anteriores) e de R$ 49 por ação PN (R$ 3 abaixo do preço anterior).

Apesar da redução dos targets, a perspectiva para a empresa é bastante positiva – prova é o título do relatório assinado por Frank McGann e Conrado Vegner: “Posicionada para o crescimento: olhando além da diluição”. “Com a oferta concluída, esperamos que os ativos voltem a ser negociados com base em seus fundamentos, que seguem excelentes”, explicam os analistas.

Mais ações, menos lucro por açãoSegundo os cálculos da dupla, a capitalização da estatal aumentou em 47% o número de ADRs e ações – há ainda a possibilidade de um novo aumento de 5%, caso o greenshoe (lote suplementar) seja totalmente utilizado.

Com isso, os analistas do BofA ML optaram por reduzir as projeções de lucro (antes de itens extraordinários, como câmbio) por ADR e por ação preferencial de 2010 para US$ 4,517 e R$ 3,82, respectivamente, um queda de 8% frente às estimativas anteriores. Para 2011, a queda foi ainda maior, de 26% - as novas estimativas são de US$ 3,81 por ADR e de R$ 3,55 por ação. As projeções para 2012 sofreram o mesmo corte, para US$ 3,73 e R$ 3,56, na mesma ordem.

Diluição já refletidaApesar da redução das projeções, os analistas acreditam que a diluição já está refletida no preço das ações da estatal, já que incertezas em torno do processo de capitalização penalizaram a ação no ano.

McGann e Vegner afirmam que os papéis ordinários estão sendo negociados com um desconto de 4% frente aos pares internacionais considerando-se o múltiplo preço/lucro para 2011. Nos ativos preferenciais, o desconto atinge 15%. “Considerando a melhor base de ativos da Petrobras e seu perfil de crescimento, acreditamos que as ações deveriam ser negociadas com um prêmio em relação aos pares”, apontam.

Cessão onerosa de volta à pautaA principal responsável pela diluição no curto e médio prazo é a cessão onerosa de 5 bilhões de barris do Governo para a empresa – fator que, apesar de adicionar lucratividade e crescimento futuro significativo, além de aumentar a diversificação da empresa e facilitar a exploração de áreas adjacentes aos poços já existentes, não deve gerar lucros ou caixa para a companhia antes de 2015.

“Mas achamos que os investidores devem olhar além da diluição, já que ela já ocorreu e está, em nossa visão, refletida no preço dos ativos. Acreditamos que os investidores devem se focar na contribuição que esses papéis podem dar aos lucros futuros”, argumentam.

Ainda sobre a cessão onerosa, a precificação dos barris, que tanto assombrou os mercados, não deve ficar só como passado. Afinal, o preço médio de US$ 8,51 (acima das expectativas do BofA ML) pode ser alterado nos próximos quatro ou seis anos, considerando os preços do petróleo e mudanças nos custos de produção e exploração.

Produção e capexOs analistas se mostram descrentes com a meta de produção da Petrobras para os próximos anos, classificando os planos da estatal como agressivos. “Considerando a complexidade e tamanho dos projetos envolvidos para atingir a meta de 3,95 milhões de barris por dia em 2020, acreditamos que o nível de produção ficará abaixo disso”, escrevem. “Esperamos que a empresa reavalie seu portfólio e adie alguns projetos para priorizar as áreas envolvidas na cessão onerosa”.

Apesar disso, a empresa ainda terá uma das maiores taxas anuais de crescimento e pode se tornar a maior estatal do mundo em termos de produção. De acordo com o BofA ML, o desenvolvimento de projetos da Petrobras deve liderar os mercados da commodity na próxima década – melhorando também os lucros da companhia.

Os analistas minimizam os riscos de execução, apontando que o histórico da Petrobras é bastante favorável – contudo, reconhecem que os riscos do pré-sal não são inexistentes. O risco político também é minimizado, com a expectativa de que as políticas atuais sejam estendidas em um possível mandato de Dilma Rousseff.

Por fim, McGann e Vegner abordam o já elevado capex (capital de investimento) da empresa – que, segundo eles, não inclui gastos relacionados à exploração, avaliação e desenvolvimento das áreas dos 5 bilhões de barris de petróleo. “Há alguma chance de o plano aumentar, mas acreditamos que a empresa está atingindo um limite de quanto pode lidar em um determinado momento”, explicam.