sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

VOLATILIDADE TRAZ RISCO, MAS TAMBÉM OPORTUNIDADES NO MERCADO

São Paulo, 5 - O momento de maior volatilidade vivido pelos mercados flagra os ativos financeiros brasileiros em uma situação incômoda. A bolsa brasileira e o real foram campeões de valorização em 2009 e, agora, são também alvos preferenciais das vendas para realização de lucros quando surgem ameaças no horizonte, como as representadas pela crise dos países do Sul da Europa e pelo crescimento trôpego da economia americana. Não é de estranhar, portanto, que a Bovespa chegue ao final da primeira semana de fevereiro com uma queda de mais de 9% acumulada no ano, enquanto o dólar já subiu mais de 8% ante o real. Ou seja, o mercado queima gorduras onde ela está localizada.

A volatilidade externa deve continuar apresentando riscos ao mercado brasileiro. Enquanto não ficar claro o destino dos endividados e deficitários países europeus, uma espada de Dâmocles pesará sobre a cabeça do investidor, especialmente sobre aquele que estiver posicionado em ativos de maior risco. Um eventual default soberano provavelmente espalharia aversão ao risco e traria ao imaginário dos poupadores novamente os fantasmas de setembro de 2008, quando a quebra do Lehman Brothers definiu um novo e mais profundo estágio para a crise. Além disso, resta a dúvida sobre o ritmo de retomada da economia dos EUA, que, a julgar pelos últimos números do emprego, ainda é, no mínimo, incerto.

Os riscos são elevados, mas a possibilidade de a situação se resolver nas próximas semanas também não deve ser desconsiderada. Deve-se se considerar que as autoridades da União Europeia serão amplamente pressionadas a agir para evitar um desastre em alguns dos seus membros. Provavelmente, a UE, e também a autoridade monetária da zona do euro (BCE), gostariam de deixar "um corpo boiar", como os americanos fizeram com o Lehman.

A quebra de um país ficaria como alerta para que os demais cuidem de suas contas. Mas os riscos desta iniciativa seriam enormes. Afinal, um único default poderia contaminar os negócios com bônus de todos os países do continente, levando a um efeito dominó difícil de controlar, uma vez que o mercado sabe que os problemas fiscais são generalizados. No limite, a própria estabilidade da zona do euro como um todo poderia ser ameaçada. É mais prudente, portanto, apostar em algum socorro providencial, ainda que feito sob condições de ajustes mais ou menos severos em cada país. Afinal, se os grandes bancos foram socorridos na Europa por ações providenciais dos governos, por que os gregos ou portugueses aceitariam solução diferente?

Portanto, assim como há risco de o cenário externo piorar, a chance de uma melhora nas próximas semanas também existe. Neste caso, as fortes quedas das ações das últimas semanas poderiam representar oportunidades de entrada na bolsa para o investidor que perdeu o timing da compra em 2009. É claro que se vier default na Grécia ou em qualquer outro país europeu os preços podem cair ainda mais. E provavelmente os caçadores de pechinchas também vão aparecer neste momento, assim como apareceram no final de 2008 e no começo de 2009. Mas se vier um bote salva-vidas para os europeus do Sul, a bolsa poderá recuperar-se rapidamente e o investidor terá perdido uma chance de ouro de comprar barato. Enfim, onde há risco há oportunidade e vice-versa. Quem quiser entrar apenas quando o risco passar, terá de pagar mais caro.

Por ora, o fato é que não há qualquer sinal de que o Brasil possa ter seus fundamentos questionados seriamente pelo mercado. Até prova em contrário, as apostas são de que a economia brasileira vai crescer este ano acima da média mundial. E, ao contrário da maioria dos países ricos, aqui o déficit fiscal se mostra bem menos ameaçador. Em 2009, por exemplo, o déficit brasileiro foi cerca de quatro vezes menor do que o grego (apesar de todos os problemas estruturais ainda não resolvidos, como o da Previdência).

Além disso, as reservas cambiais de US$ 240 bilhões são hoje cerca de US$ 30 bilhões maiores do que quando o País entrou na crise do final de 2008. Se US$ 209 bilhões foram suficientes para suportar o tranco naquela época, porque US$ 240 bilhões agora não o seriam? Nem mesmo em relação à inflação os investidores estão se mostrando apavorados, apesar dos últimos resultados pra lá de salgados do IPCA e do IGP-DI e a despeito dos alertas feitos pelo Banco Central na ata do Copom. Em parte, os analistas dão o desconto da sazonalidade e dos fatores atípicos, como a chuva, que puxaram os preços neste começo de ano, mas não devem se repetir.

Esta tranquilidade com os juros também se explica muito pelo cenário externo. O mercado sabe que se o crescimento da economia global definhar novamente a demanda interna também poderá ser afetada, tornando desnecessário um aperto monetário, ou tornando-o mais suave, no Brasil. Porém, mesmo que os EUA e a Europa falhem em imprimir velocidade às suas economias, um mínimo de impulso para o Brasil e outros emergentes deve continuar sendo assegurado pela China. Além disso, assim como já aconteceu no segundo semestre do ano passado, os impulsos domésticos, originados do emprego, da renda, do crédito e dos investimentos tendem a continuar dando sustentação à economia brasileira, a despeito da volatilidade nossa de cada dia dos mercados.

(Josué Leonel é colaborador da AE e comentarista da Rede Eldorado)

Fonte: AE Broadcast