Por: Tainara Machado
14/09/10 - 11h26
InfoMoney
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SÃO PAULO - O setor de educação no Brasil passa por um bom momento, com um intenso movimento de fusões e aquisições. Na última semana, surgiu mais uma novidade positiva, com o anúncio do Ministério da Educação de uma medida importante e esperada para a educação de nível superior brasileira: a criação de um fundo garantidor para eliminar a necessidade de apresentação de um fiador para alunos que pleiteiem financiamento através do FIES (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior).
Embora alguns detalhes tenham ficado de fora, como a potencial contribuição do governo para esse fundo, a medida era amplamente aguardada pelas empresas, conforme mencionado por Eduardo Alcalay, presidente da Estácio Participações (ESTC3) na última teleconferência com acionistas sobre o resultado do segundo trimestre. "Seria interessante e importante para o setor como um todo", declarou à época.
Para Juliana Rozenbaum e Marcio Osako, analistas da Itaú Corretora, o setor educacional brasileiro será beneficiado com a medida porque espera-se que haverá aumento da população de baixa renda com acesso ao ensino superior no País. No entanto, embora sejam quatro as principais empresas do setor de educação listadas na Bovespa, a recomendação de outperform (expectativa de desempenho acima da média do mercado) aplica-se a apenas duas empresas: Anhanguera (AEDU11) e Kroton (KROT11). Por quê?
Anhanguera
No caso da Anhanguera, o catalisador, segundo os analistas da Itaú, pode ser representado pela retomada de aquisições. No entanto, são os números apresentados pela companhia que sustentam o atual momento dos papéis da companhia, que já subiram 20,24% neste ano, considerando o fechamento de segunda-feira (13).
A empresa terminou o segundo trimestre deste ano com 163 mil estudantes de gradução, evolução de 7,2% em relação ao mesmo período de 2009, e com aumento de 16% no aluno de ensino à distância. Para Vitor Pini e Ricardo Boiati, analistas do Bradesco, a eficiência da Anhanguera pode ser lida por um outro dado: a margem bruta passou de 37,1% para 39% no segundo trimestre deste ano, "mostrando a eficiência da companhia em maturar e integrar as empresas adquiridas", indicaram.
"A Anhanguera é a história mais desenvolvida e a companhia mais líquida no espaço educacional brasileiro", comentam os analistas do Itaú, que recentemente revisaram as projeções para a empresa, estabelecendo preço-alvo de R$ 34,30 para o final de 2011 - o que significa um upside de 14,72% em relação à cotação de fechamento do dia 13.
Além de considerar que a companhia está bem posicionada para aproveitar o movimento de consolidação no setor, a Itaú lembrou também que as oportunidades de crescimento para a Anhanguera "são vastas", já que a companhia tem presença limitada nas regiões Nordeste e Sul e no estado do Rio de Janeiro.
KrotonO caso da Kroton poderia ser semelhante, mas (ainda) não é. Em março, a companhia adquiriu a Iuni, tornando-se a quinta maior instituição de ensino básico privado do Brasil em número de alunos. O Bradesco considerou o negócio estratégico para a empresa, reforçando a presença da companhia em áreas que apresentam crescimento rápido, como Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Vitor Pini, Luis Azevedo e Rodrigo Santoro destacaram que o negócio não foi uma barganha, já que a Kroton desembolsou cerca de R$ 430 milhões para a aquisição, mas lembraram que agrega valor, tanto em termos de matrículas quanto de lucratividade. Juliana Rozenbaum e Márcio Osako, do Itaú, manifestaram-se no mesmo sentido, avaliando de maneira positiva a aquisição da Iuni.
“Nós esperamos que a Kroton se beneficie significativamente da eficiência acadêmica e do modelo estrutural da Iuni, que deverão melhorar as margens Ebitda (relação percentual entre geração de caixa e receita líquida)”. Além disso, os analistas consideravam a descrença do mercado e a queda dos papéis uma reação exagerada.
No entanto, o mercado ainda pressionou os units da companhia, que acumulam neste ano queda de 15,39%. Isso porque os números da empresa não reagiram conforme a expectativa. No período de abril a junho deste ano, a Kroton registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 11,820 milhões, em que o resultado foi afetado por R$ 11,7 milhões de despesas não-recorrentes, relacionados à aquisição do Iuni e ao projeto de integração.
O Itaú, por exemplo, revisou algumas estimativas, especialmente no curto e médio prazo (por exemplo, -18% e -31% para a geração operacional de caixa e para o lucro líquido do exercício fiscal de 2011). Além disso, o preço justo passou de R$ 22,20 para R$ 20,90.
De acordo com a administração da companhia, o primeiro semestre de 2010 foi dedicado à definição e execução dos projetos de integração e otimização de custos. A expectativa da Kroton é que no segundo semestre aconteça uma "revisão estratégica", o que direcionará os esforça da companhia "para um melhor posicionamento comercial, que irá incluir o redesenho do portfólio de cursos, com o objetivo de aprimorar a atração e a retenção de alunos", planeja a empresa.
A estratégia começa a surtir efeitos entre os investidores. Nos últimos trinta dias, os papéis subiram 17,88%, melhor desempenho entre as empresas do setor no período. Para o Itaú, a despeito das revisões, o risco-retorno do atual preço é atrativo, e ganhos de sinergias devem aumentar as margens da companhia nos próximos anos. "O pior parece ter sido superado" e o conjunto dos resultados deve melhorar, estima o Itaú.
SEB
Embora não apareça entre as recomendações da Itaú, os units do SEB (SEBB11) representam a maior valorização do setor no ano. Nesse caso, a explicação está, essencialmente, na compra do controle indireto pela Pearson. Em apenas um único pregão, os units passaram de R$ 19,70 para R$ 28,80, um avanço de 46,2%.
O principal motivo é o acordo entre as duas partes, em que os acionistas minoritários do SEB poderão receber R$ 31,00 por unit, em duas ofertas públicas de aquisição que serão realizadas. Atualmente, os papéis são negociados a R$ 29,50, o que ainda sugere um upside potencial de 5% em relação ao oferecido pelo controlador aos minoritários.
No contrato, a Pearson assumiu a obrigação de efetivar uma oferta pública de aquisição das ações de emissão da companhia por R$ 22, mesmo valor ofertado aos controladores. Estes, por sua vez, têm intenção de realizar uma OPA das ações de emissão da Nova SEB, com preço de R$ 9 por unit - equivalente à diferença entre o valor do patrimônio líquido estabelecido durante a operação e a OPA do SEB.
Recentemente, o SEB manteve sinalização nesse sentido, marcando assembleias gerais extraodinárias para a escolha de instituição independente responsável pela elaboração de laudos e também para deliberação sobre o cancelamento do registro da companhia e da Nova SEB como companhia aberta perante a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A OPA Nova SEB estará condicionada a que remanesçam menos de 5% do total de ações de emissão da empresa em circulação.
Com a intenção de deixar de ser listada, os units da companhia mostram volume baixo de negócios (apenas dois realizados no dia 13, por exemplo), e alta de apenas 0,51% nos últimos 30 dias.
Estácio Participações
Com esse panorama, a empresa que se encontra em posição mais delicada é a Estácio Participações (ESTC3). Em maio de 2008, a GP Invest (GPIV11) pagou R$ 259 milhões para adquirir 20% da universidade Estácio de Sá. A empresa, que já foi a maior companhia de ensino superior do País, perdeu o posto no ano passado, em número de alunos, para a Anhanguera.
A companhia também teve que renegociar matrículas para diminuir a quantidade de maus pagadores, que levaram a empresa a registrar calote de R$ 60 milhões em mensalidades atrasadas ao final de 2009. Para a administração, no entanto, o resultado do segundo trimestre, em que a base total de alunos aumentou 1,6% em relação ao segundo trimestre de 2009, com destaque para os cursos de ensino a distância, foi positivo.
"O sucesso do Ensino a Distância, a redução no nível de evasão dos alunos e a crescente adesão aos nossos programas de apoio estudantil nos fazem acreditar que estamos no caminho certo", declarou a mensagem da administração que acompanhou o resultado do segundo trimestre.
Os analistas consideraram o balanço trimestral "neutro", embora a Planner tenha preferido não recomendar a compra do ativo por causa da acirrada concorrência vista no setor educacional. Já para os analistas do Santander Daniel Gewehr e Bruno Giardino, que assinaram relatório comentando o balanço na época, as ações têm recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 30 para o final de 2011 - upside de 63% em relação ao fechamento de segunda-feira.
Apesar da evolução do resultado da empresa, o anúncio de que a companhia encaminhou pedido de oferta primária e secundária à Anbima (Associação Brasileira das Entidades de Mercado Financeiro e de Capitais) ainda pesa sobre os papéis, com temor de um excesso de oferta. Desse modo, as ações continuam a decepcionar investidores, acumulando queda de 24,44% neste ano.
Embora alguns detalhes tenham ficado de fora, como a potencial contribuição do governo para esse fundo, a medida era amplamente aguardada pelas empresas, conforme mencionado por Eduardo Alcalay, presidente da Estácio Participações (ESTC3) na última teleconferência com acionistas sobre o resultado do segundo trimestre. "Seria interessante e importante para o setor como um todo", declarou à época.
Para Juliana Rozenbaum e Marcio Osako, analistas da Itaú Corretora, o setor educacional brasileiro será beneficiado com a medida porque espera-se que haverá aumento da população de baixa renda com acesso ao ensino superior no País. No entanto, embora sejam quatro as principais empresas do setor de educação listadas na Bovespa, a recomendação de outperform (expectativa de desempenho acima da média do mercado) aplica-se a apenas duas empresas: Anhanguera (AEDU11) e Kroton (KROT11). Por quê?
Anhanguera
No caso da Anhanguera, o catalisador, segundo os analistas da Itaú, pode ser representado pela retomada de aquisições. No entanto, são os números apresentados pela companhia que sustentam o atual momento dos papéis da companhia, que já subiram 20,24% neste ano, considerando o fechamento de segunda-feira (13).
A empresa terminou o segundo trimestre deste ano com 163 mil estudantes de gradução, evolução de 7,2% em relação ao mesmo período de 2009, e com aumento de 16% no aluno de ensino à distância. Para Vitor Pini e Ricardo Boiati, analistas do Bradesco, a eficiência da Anhanguera pode ser lida por um outro dado: a margem bruta passou de 37,1% para 39% no segundo trimestre deste ano, "mostrando a eficiência da companhia em maturar e integrar as empresas adquiridas", indicaram.
"A Anhanguera é a história mais desenvolvida e a companhia mais líquida no espaço educacional brasileiro", comentam os analistas do Itaú, que recentemente revisaram as projeções para a empresa, estabelecendo preço-alvo de R$ 34,30 para o final de 2011 - o que significa um upside de 14,72% em relação à cotação de fechamento do dia 13.
Além de considerar que a companhia está bem posicionada para aproveitar o movimento de consolidação no setor, a Itaú lembrou também que as oportunidades de crescimento para a Anhanguera "são vastas", já que a companhia tem presença limitada nas regiões Nordeste e Sul e no estado do Rio de Janeiro.
Desempenho do setor de educação: | |||
---|---|---|---|
30 dias | Ano | Cotação atual | |
Anhanguera (AEDU11) | +14,56% | +20,24% | R$ 29,90 |
Kroton (KROT11) | +17,88% | -15,39% | R$ 15,23 |
SEB (SEBB11) | +0,51% | +28,77% | R$ 29,50 |
Estácio (ESTC3) | -6,36% | -24,44% | R$ 18,40 |
KrotonO caso da Kroton poderia ser semelhante, mas (ainda) não é. Em março, a companhia adquiriu a Iuni, tornando-se a quinta maior instituição de ensino básico privado do Brasil em número de alunos. O Bradesco considerou o negócio estratégico para a empresa, reforçando a presença da companhia em áreas que apresentam crescimento rápido, como Centro-Oeste, Norte e Nordeste.
Vitor Pini, Luis Azevedo e Rodrigo Santoro destacaram que o negócio não foi uma barganha, já que a Kroton desembolsou cerca de R$ 430 milhões para a aquisição, mas lembraram que agrega valor, tanto em termos de matrículas quanto de lucratividade. Juliana Rozenbaum e Márcio Osako, do Itaú, manifestaram-se no mesmo sentido, avaliando de maneira positiva a aquisição da Iuni.
“Nós esperamos que a Kroton se beneficie significativamente da eficiência acadêmica e do modelo estrutural da Iuni, que deverão melhorar as margens Ebitda (relação percentual entre geração de caixa e receita líquida)”. Além disso, os analistas consideravam a descrença do mercado e a queda dos papéis uma reação exagerada.
No entanto, o mercado ainda pressionou os units da companhia, que acumulam neste ano queda de 15,39%. Isso porque os números da empresa não reagiram conforme a expectativa. No período de abril a junho deste ano, a Kroton registrou um prejuízo líquido ajustado de R$ 11,820 milhões, em que o resultado foi afetado por R$ 11,7 milhões de despesas não-recorrentes, relacionados à aquisição do Iuni e ao projeto de integração.
O Itaú, por exemplo, revisou algumas estimativas, especialmente no curto e médio prazo (por exemplo, -18% e -31% para a geração operacional de caixa e para o lucro líquido do exercício fiscal de 2011). Além disso, o preço justo passou de R$ 22,20 para R$ 20,90.
De acordo com a administração da companhia, o primeiro semestre de 2010 foi dedicado à definição e execução dos projetos de integração e otimização de custos. A expectativa da Kroton é que no segundo semestre aconteça uma "revisão estratégica", o que direcionará os esforça da companhia "para um melhor posicionamento comercial, que irá incluir o redesenho do portfólio de cursos, com o objetivo de aprimorar a atração e a retenção de alunos", planeja a empresa.
A estratégia começa a surtir efeitos entre os investidores. Nos últimos trinta dias, os papéis subiram 17,88%, melhor desempenho entre as empresas do setor no período. Para o Itaú, a despeito das revisões, o risco-retorno do atual preço é atrativo, e ganhos de sinergias devem aumentar as margens da companhia nos próximos anos. "O pior parece ter sido superado" e o conjunto dos resultados deve melhorar, estima o Itaú.
SEB
Embora não apareça entre as recomendações da Itaú, os units do SEB (SEBB11) representam a maior valorização do setor no ano. Nesse caso, a explicação está, essencialmente, na compra do controle indireto pela Pearson. Em apenas um único pregão, os units passaram de R$ 19,70 para R$ 28,80, um avanço de 46,2%.
O principal motivo é o acordo entre as duas partes, em que os acionistas minoritários do SEB poderão receber R$ 31,00 por unit, em duas ofertas públicas de aquisição que serão realizadas. Atualmente, os papéis são negociados a R$ 29,50, o que ainda sugere um upside potencial de 5% em relação ao oferecido pelo controlador aos minoritários.
No contrato, a Pearson assumiu a obrigação de efetivar uma oferta pública de aquisição das ações de emissão da companhia por R$ 22, mesmo valor ofertado aos controladores. Estes, por sua vez, têm intenção de realizar uma OPA das ações de emissão da Nova SEB, com preço de R$ 9 por unit - equivalente à diferença entre o valor do patrimônio líquido estabelecido durante a operação e a OPA do SEB.
Recentemente, o SEB manteve sinalização nesse sentido, marcando assembleias gerais extraodinárias para a escolha de instituição independente responsável pela elaboração de laudos e também para deliberação sobre o cancelamento do registro da companhia e da Nova SEB como companhia aberta perante a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). A OPA Nova SEB estará condicionada a que remanesçam menos de 5% do total de ações de emissão da empresa em circulação.
Com a intenção de deixar de ser listada, os units da companhia mostram volume baixo de negócios (apenas dois realizados no dia 13, por exemplo), e alta de apenas 0,51% nos últimos 30 dias.
Estácio Participações
Com esse panorama, a empresa que se encontra em posição mais delicada é a Estácio Participações (ESTC3). Em maio de 2008, a GP Invest (GPIV11) pagou R$ 259 milhões para adquirir 20% da universidade Estácio de Sá. A empresa, que já foi a maior companhia de ensino superior do País, perdeu o posto no ano passado, em número de alunos, para a Anhanguera.
A companhia também teve que renegociar matrículas para diminuir a quantidade de maus pagadores, que levaram a empresa a registrar calote de R$ 60 milhões em mensalidades atrasadas ao final de 2009. Para a administração, no entanto, o resultado do segundo trimestre, em que a base total de alunos aumentou 1,6% em relação ao segundo trimestre de 2009, com destaque para os cursos de ensino a distância, foi positivo.
"O sucesso do Ensino a Distância, a redução no nível de evasão dos alunos e a crescente adesão aos nossos programas de apoio estudantil nos fazem acreditar que estamos no caminho certo", declarou a mensagem da administração que acompanhou o resultado do segundo trimestre.
Os analistas consideraram o balanço trimestral "neutro", embora a Planner tenha preferido não recomendar a compra do ativo por causa da acirrada concorrência vista no setor educacional. Já para os analistas do Santander Daniel Gewehr e Bruno Giardino, que assinaram relatório comentando o balanço na época, as ações têm recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 30 para o final de 2011 - upside de 63% em relação ao fechamento de segunda-feira.
Apesar da evolução do resultado da empresa, o anúncio de que a companhia encaminhou pedido de oferta primária e secundária à Anbima (Associação Brasileira das Entidades de Mercado Financeiro e de Capitais) ainda pesa sobre os papéis, com temor de um excesso de oferta. Desse modo, as ações continuam a decepcionar investidores, acumulando queda de 24,44% neste ano.