terça-feira, 1 de junho de 2010

BofA dá início a sua carteira mensal de recomendações de ações brasileiras

Por: Equipe InfoMoney
01/06/10 - 22h00
InfoMoney


SÃO PAULO - Neste mês, o BofA Merrill Lynch dá início a sua carteira de recomendações de ações brasileiras mensal. O portfolio, explica o banco, substitui a porção dedicada ao Brasil no relatório que elege as preferidas da instituição na América Latina. Mensalmente, será divulgada uma seleção de investimentos com, preferencialmente, 15 ações que tenham liquidez diária de pelo menos US$ 1 milhão e que sejam classificadas com recomendação de compra (valorização esperada de 10% ou mais nos próximos 12 meses) ou neutra (valorização nula esperada no mesmo período, ou com aumento de valor menos atrativo do que o esperado para as ações classificadas como "compra") pelo banco.

Além disso, a equipe de análise responsável pelo relatório, representada por Renato Onishi, Pedro Martins Jr. e Marina Valle, se reserva o direito de fazer mudanças nessa carteira ao longo do mês. "O primeiro objetivo do Brazil Core Portfolio é ter performance superior ao Ibovespa", declara o BofA.

Assim, a seleção de investimentos provém de uma combinação entre análise top down, em que observa-se o cenário macroeconômico e quais setores serão beneficiados pelos eventos futuros, e bottom up, em que os fundamentos das empresas e as perspectivas para essas companhias são estudadas detalhadamente. 

Perspectivas para junho
A projeção do BofA para junho é de que as ações brasileiras percorram caminho ascendente, num cenário em que possivelmente as preocupações dos investidores em relação à Europa irão diminuir gradualmente. 

Dentre o cenário macroeconômico projetado, o banco prevê crescimento de 1,4% do PIB (Produto Interno Bruto) na Zona do Euro em 2010, já levando em consideração as medidas de austeridade fiscal. Na China, a pesrpectiva é de expansão de 10,1% da economia do país em 2010, em que o ciclo de aperto monetário terá início no segundo semestre deste ano. 

Além disso, a equipe prevê também ganhos mais fortes do S&P 500. Por último, a análise levou em conta uma elevação de 4,3% no volume financeiro, o que sinaliza interrupção da sinalização de venda observada no último mês, mas ainda atrás dos 4,5% que representam uma retomada do movimento comprador.

Com esse panorama, o BofA projeta que o Ibovespa alcance os 81 mil pontos em 12 meses, beneficiado pela expectativa de que o PIB global irá reverter a situação recessiva do ano passado a avançar 4,5% em 2010. Conta ainda para essa estimativa as taxas de juros em níveis historicamente baixas mundo afora, o que aumenta o interesse por retornos em investimentos com crescimento sustentável.

Convicções
O BofA Merrill Lynch declara que inicia seu portfólio recomendado com três convicções: mesmo com o aperto monetário, setores relacionados à renda terão performance forte; a recuperação econômica global irá se sustentar, apesar das preocupações com a necessidade dos emergentes em retirar estímulos fiscais; por último, o banco declara perspectiva otimista para o mercado acionário brasileiro, embora reconheça que o risco percebido aumentou.

Por causa do ciclo de aperto monetário por aqui, o banco dá preferência a setores com exposição doméstica ao aumento da renda, e não do crédito. Desse modo, o setor de saúde deve se beneficiar do aumento da renda disponível e do envelhecimento da população, configurando então um dos melhores casos de investimento no tema "consumo doméstico".

Ações que ofereçam proteção em suas receitas contra a inflação também são bem vistas pelo Bank of America Merrill Lynch. Nesse caso, as companhias financeiras são o destaque, embora o banco declare que prefere instituições que não sejam bancos, por causa do risco de oferta excessiva em instituições considerados large caps. Ainda assim, essas empresas têm perspectiva positiva por causa da robusta atividade de empréstimos ao mesmo tempo em que a taxa de inadimplência diminui. Além disso grandes bancos de varejo serão beneficiados por uma alta na Selic. Nesse caso, são os bancos small cap que representam o maior risco.

Materiais básicos
Como o mundo não está caindo aos pedaços, declara o BofA, os setores de mineração e siderurgia aparecem com classificação Overweight. "Continuamos cautelosamente otimistas com o crescimento global, projetando 4,5% de expansão em 2010 e 4,6% em 2011, apesar do aumento das preocupações com o aperto fiscal na Europa".

A recente desvalorização desses ativos em relação ao benchmark leva as ações relacionadas aos materiais básicos a apresentarem valuation atrativo e perspectiva de crescimento dos ganhos. Por outro lado, como o cenário é de incertezas, o banco sugere foco em estratégias de baixo P/L, pois a instabilidade gera necessidade de horizontes menores na hora de investir.

Entenda o portfólio
O banco explica que a definição da estratégia top down é baseada em alguns elementos-chave, como temáticas globais que devem influenciar os mercados acionários, como a perspectiva para o PIB (Produto Interno Bruto). Para o Brasil, especificamente, o banco irá observar condições macroeconômicas do País, como ciclos fiscais e monetários. Além disso, influenciam ainda nesse tipo de análise o valuation e a projeção de ganhos dos setores, além de fatos específicos, como mudanças na regulação.

Montado esse cenário, as empresas precisam que seus ativos preencham certos requisitos para que possam ser listadas no Brazil Core Portfolio. Além de catalisadores para os ativos no curto prazo, o BofA irá usar como critério múltiplos da companhia, opinião do banco sobre aquele ativo, liquidez e também a exposição daquela companhia, o que permitirá rotatividade entre empresas beneficiadas por demanda interna versus demanda externa.

Vale lembrar, portanto, que qualquer ação que tenha sua recomendação revista para Underperform (performance abaixo da média do mercado) será removida da carteira recomendada.

Confira a relação das ações na carteira do BofA Merrill Lynch:
Brazil Core Portfolio
Ação Código Preço-alvo Upside* Peso
Vale ADR US$ 38 - 17,9%
CSN CSNA3 R$ 42 54,7% 4,6%
Usiminas USIM5 R$ 73 61,8% 7%
Fibria ADR US$ 29 - 1,8%
DASA DASA3 R$ 20 35,1% 1,8%
Itaú Unibanco ADR US$ 26 - 9%
BM&F Bovespa BVMF3 R$ 15 26,4% 9,6%
Petrobras ADR R$ 63 - 16,2%
Cyrela CYRE3 R$ 30 55,6% 8,5%
Lojas Renner LREN3 R$ 52 21,78% 2,9%
CCR CCRO3 R$ 45 25% 5,7%
Cesp CESP6 R$ 33 49% 1,8%
Copel CPLE6 R$ 48 45,6% 4,1%
TIM ADR US$ 35 - 3,9%
AmBev AMBV4 R$ 200 15,6% 2,9%
Potencial de valorização em 12 meses com base no fechamento de 1 de junho


Confira a análise detalhada para cada empresa:
AmBev
O BofA Merrill Lynch projeta preço-alvo de R$ 200 por ação (ou US$ 114 por ADR), assumindo múltiplo de estimativa de ganho por papel que coloca a AmBev entre as empresas com melhor valuation dentre as cervejarias globais, devido às oportunidades de crescimento no longo prazo.

Por outro lado, uma erosão no sentimento do investidor, consumo mais fraco, novas regulações, impostos ou restrições antitruste, materiais básicos mais caros e até mesmo risco político são pontos que podem surpreender o investidor negativamente.

BM&F Bovespa
Para a companhia, o BofA projeta um preço-alvo de R$ 15,00, baseado em um modelo de fluxo de caixa descontado. Além disso, esse valor também assume que a relação entre preço e lucro ao final deste ano esteja em 22,1 vezes. Os riscos, nesse caso, ficam centrados em crescimento menor no volume, diminuição de preços e deterioração dos fundamentos macroeconômicos brasileiros, além de riscos regulatórios.

CCR
Como os ativos são devolvidos à autoridade distribuidora no final da concessão, sem nenhuma cláusula de renovação, o preço-alvo de R$ 45,00 provém de modelo em que o FCD é finito. As ameaças a essa estimativa ficam por conta de riscos regulatórios, como mudanças desfavoráveis nos termos de concessão, rotas alternativas e aumento de competitividade, além de um esfriamento da atividade econômica do País.

Cesp
O preço-alvo da companhia é baseado no cenário-base, em que a renovação de concessões se dá com preço de R$ 62/MWh. Nesse caso, o upside é atribuído a renovação das concessões em termos melhores do que os esperados e em prazo anterior ao previsto. Por outro lado, atrasos na definição das renovações, condições menos favoráveis e até mesmo pagamento de dividendos decepcionante são os riscos oferecidos pela Cesp.

No modelo em que as concessões não são renovadas, o fluxo de caixa descontado sugere um preço alvo de R$ 25.


Copel
Para a Copel, o preço-alvo é baseado também no fluxo de caixa descontado, com projeção de R$ 48 para o ativo. Nesse caso, o risco de upside fico com um capex abaixo do previsto no guidance da empresa, eliminação dos descontos nas tarifas até 2010, dividendos mais altos e a contratação da planta de Araucária. Por outro lado, interferências políticas e atrasos nos projetos de geração de energia, além de aquisições em negócios que não sejam o seu principal são os potenciais riscos para essa empresa.

CSN
No caso da CSN, o preço-alvo de R$ 42 por ação é baseado 50% no modelo de FCD. Os outros 50% levam em conta o múltiplo entre valor da empresa e Ebitda (geração operacional de caixa), em 7,13 vezes em 2011, dentro da média histórica para o negócio.

Os riscos para a companhia podem ser ocasionados por declínio dos preços do aço no Brasil e recuperação econômica mais modesta do que o esperado, o que levaria a um volume de venda mais baixo. Além disso, caso as vendas de minério de ferro para a China fiquem abaixo do esperado, o preço-alvo pode não ser atingido.

Cyrela
Para a Cyrela, o BofA estipula preço-alvo de R$ 30,00, e os riscos estão relacionados à alta nas taxas de juros além do esperado, aumento no preço da terra e dos materiais básicos, além de mudanças na regulação, excesso de oferta e instabilidade macroeconômica.

Dasa
Os robustos ganhos da companhia provém de uma combinação de fatores: exposição ao mercado de saúde, rápido crescimento, estratégia de consolidação bem sucedida e diversificação do modelo de negócio, o que provocou uma melhora da receita.  Nesse caso, os riscos ao preço-alvo de R$ 20 estabelecido pelo BofA ficam com futuras aquisições, aumento da competição, pressão nos preços inerente ao setor e expansão da margem aquém da expectativa.

Fibria
Deterioração no mercado de celulose, excesso de oferta e aumento das despesas com juros, dada a alavancagem da empresa, são os principais riscos para o preço-alvo de US$ 29 por ADR da empresa, segundo o BofA. O modelo usado provém também do fluxo de caixa descontado e de avaliação dos múltiplos da companhia.

Itaú Unibanco
O banco pode ser beneficiado por um aumento mais substancial da taxa de juros no Brasil, em meio ao aperto monetário em curso. Por outro lado, crescimento mais moderado da economia e necessidade de mais provisões para perdas com empréstimos, em decorrência da qualidade dos ativos, podem ser riscos ao preço-alvo de R$ 47 para as ações da empresa, alerta o BofA.

Lojas Renner
O preço-alvo para a empresa é de R$ 52, em linha com o valuation de seus pares globais, segundo o banco. Nessa caso, os riscos ficam por conta de consumo mais fraco, taxas de inadimplência mais altas, falta de acesso a financiamentos e aumento da competitividade.

Petrobras
Por causa do perfil de crescimento mais forte, a expectativa é que a Petrobras alcance prêmios mais altos em relação aos seus pares. Os riscos para o preço-alvo de US$ 63,00 por ADR ficam a cargo da movimentação nos preços do petróleo, situação política no Brasil e atrasos operacionais na produção e no desenvolvimento de projetos da companhia.

TIM
O preço-alvo dos ADRs da companhia é de US$ 35,00, baseado em um EV/Ebitda de 4,6 vezes em 2010, o que representa um desconto de quase 10% em relação aos ADRs da Vivo. Em relação a essa estimativa, os principais riscos provêm de aumento da competitividade, potencial corte nas taxas de terminação e deterioração nos ganhos. Além disso, a empresa pode enfrentar alguns desafios em relação ao cenário macroeconômico, como mercado mais fraco, aumento das taxas de juros em escala global e incertezas políticas.


Usiminas
No caso da Usiminas, também o preço-alvo de R$ 73 é formado por um mix entre o fluxo de caixa descontado e o EV/Ebitda. Por uma lado, a empresa pode sofrer por estar exposta a setores relacionados ao consumo interno, ou com atraso em projetos e expansão mais moderada da economia brasileira.

Por outro lado, resiliência do mercado, especialmente em relação aos preços, depreciação da moeda ou até mesmo um crescimento mais rápido do PIB nacional podem impactar positivamente sobre as perspectivas para as ações.

Vale
A Vale também pode ter seu desempenho afetado por uma deterioração da recuperação econômica global, ou apreciação do câmbio. Além disso, o preço-alvo de US$ 38 por ADR também pode não ser atingido por causa de uma interrupção nos gastos com infraestrutura em escala mundial ou taxas de frete maiores, reduzindo a competitividade da empresa na China, conclui o BofA.