terça-feira, 25 de maio de 2010

Bob Doll: pior da correção já passou, mas recuperação dos mercados levará tempo

Por: Julia Ramos M. Leite
25/05/10 - 20h50
InfoMoney


SÃO PAULO – A avaliação de Bob Doll, vice-presidente e estrategista-chefe da BlackRock, sobre a atual situação dos mercados, traz ao mesmo tempo um alívio e um alerta. “Acredito que o pior da recente correção já passou”, afirma Doll em seu relatório semanal. “Entretanto, os mercados levarão tempo até se recuperarem”, completa.

Do lado positivo, Doll destaca que, com as recentes quedas, os valuations estão mais atrativos. Nas próximas semanas, a situação do continente europeu e da reforma financeira nos EUA deve ficar mais clara, trazendo menos instabilidade e permitindo que a confiança na recuperação seja retomada.

“Os recentes eventos trouxeram dias turbulentos e difíceis aos investidores, mas acreditamos que a recuperação da economia segue em curso, de maneira geral”, explica o estrategista da BlackRock, lembrando que a retomada cíclica segue intacta em diversos países com taxas de juro em baixa e indicadores positivos – caso do próprio Estados Unidos. “Dito isso, assumimos que os dados norte-americanos tem sido menos positivos nas últimas semanas, mas esperamos que o PIB (Produto Interno Bruto) do segundo trimestre avance mais de 3% - mas menos de 4%”, afirma Doll.

Segundo o estrategista, o desempenho dos ativos nas próximas semanas deve ser baseado no cenário macroeconômico, e não em fundamentos do plano corporativo – isso devido à magnitude da correção e às preocupações quanto à divida soberana dos países que ainda permeiam os mercados. “Esse ambiente geralmente significa volatilidade alta em ambos os sentidos”, lembra Doll. “É importante lembrar que as correções são comuns em uma recuperação, mas podem ser intensas e muito rápidas”.

A tempestade perfeita
Além de traçar as perspectivas, Doll também relembra o que levou à forte correção. As últimas semanas foram um balde de água fria para os mais otimistas: a volatilidade seguiu forte, impulsionada por preocupações em relação ao continente europeu e também referentes aos efeitos da reforma financeira nos EUA. “Além dos temores mais específicos, os investidores começaram a se preocupar com o momento difícil da recuperação como um todo”, afirma Doll.


Para ele, apesar de o pacote de resgate anunciado pela União Europeia e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) provavelmente ter impedido a ameaça iminente de um default grego, os investidores seguem preocupados com uma queda mais pesada do euro, além da contaminação de outros mercados.

Já em relação aos EUA, o estrategista destaca que a regulação, cujas versões aprovadas pelo Senado e pela Câmara ainda precisam ser harmonizadas, não tem sido vista como positiva para os mercados. Por fim, o número de pedidos de auxílio desemprego foi mais uma surpresa negativa – que, em combinação com os demais fatores, derrubou os mercados.